quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Uma questão de fé

Roberto crescera numa família dita católica, pese embora não ser grande a sua militância. Apesar disso, ou talvez por causa disso, foi educado num colégio religioso, tendo a qualidade do ensino sido a determinante da opção paterna.
Porém, seria aí que ele se iria descobrir. Um professor viria a ser determinante na vida do adolescente, ao ensinar-lhe filosofia, uma disciplina que, por norma, não exerce grande atracção sobre a maioria dos alunos. Contudo fopi através dela que o garoto descobriu o que entendeu ser a sua vocação: dedicar-se aos outros.
Quando em casa deu conhecimento de que queria cursar Teologia, a família reagiu mal, perguntado-lhe como é que ele iria ganhar a vida com tal formação. O jovem respondeu que não era um problema de carreira profissional, mas sim uma questão de vocação.
E, mau grado a reacção familiar, quando chegou a altura foi para o seminário. Foram anos muito duros porque apesar de Roberto saber que aquele era o caminho que queria seguir, não tinha o apoio daquilo o que se chama de fé.
Era uma luta quotidiana entre ele e Deus. O primeiro pedia insistentemente ao segundo que lhe concedesse essa graça. Mas o segundo parecia não ouvir as suas súplicas. E, por mais que o seu confessor e orientador espiritual lhe dissesse que nem todos possuíam essa capacidade de acreditar, e que a verdadeira determinante da vocação era a vontade, o certo é que Roberto sofria e teve mesmo momentos em que pensou desistir. Para ele era difícil de aceitar um padre com problemas de fé. Mas, por outro lado ele sabia, sentia que aquele era o destino que queria para si.
"Se amar não é um caminho de rosas, amar a Deus ainda é-o ainda menos, porque é mais difícil, mais avassalador. Um dia você vai perceber que a fé também pode ser feita de muitas dúvidas. Os desígnios divinos nem sempre são fáceis ou perceptíveis. Ama o próximo e talvez venhas a descobrir que, afinal, a fé está contigo sem tu o saberes".
Roberto segiu o seu caminho e em certa altura foi colocado numa paróquia. Aos poucos foi conhecendo o seu rebanho e acompanhando os seus problemas. Tentou sempre a persuasão e fez da tolerância a sua grande virtude. Muitos dos jovens que hoje frequentavam a sua Igreja tinham-se aproximado dela por essa via.
Uma tarde, a madre superiora de um convento onde prestava assistência religiosa, pediu-lhe que conversasse com uma das suas irmãs de comunidade. O padre Rogério foi. A madre recebeu-o e disse-lhe que a irmã Teresa estava com problemas de fé e precisava dos seus conselhos.
O padre ouviu-a e teve a impressão de se estar a ouvir a si próprio, há muito tempo atrás. Por isso resolveu contar-lhe a sua estória, a sua luta e quanto tudo o que passara lhe doera.
Terminou dizendo:" possivelmente, irmã Teresa, eu não terei desistido porque o Senhor sabia que, alguma vez, eu seria chamado e posto à prova. Essa ocasião acaba de chegar. Não desista. Um dia vai chegar a sua vez. É isso a vocação: ter dúvidas, mas continuar. Obrigada irmã. Acabou de me dar uma preciosa ajuda. A fé é, sobtretudo, ser fiel ao que queremos que seja o nosso destino. No meu caso, como possivelmente no seu, é e será, amar os outros e neles amar a Deus!"
Helena

Sem comentários:

Enviar um comentário