Matilde e Raul tentavam apenas, no fundo, encobrir a sua enorme tristeza e compensar a filha pela guerra que sempre haviam movido contra aquele casamento. Mas tudo havia sido inútil e por mais que lhe mostrassem, preto no branco, os riscos que Carolina ia correr com o que sabiam acerca de Alexandre, nada a demoveu. A todos, afinal, acabou por impor a sua vontade, considerando de péssimo gosto as críticas e observções que os pais haviam tecido sobre o seu futuro marido. Ela tinha certezas e era isso que realmente contava.
Ali estavam os dois, já casados, a percorrer as mesas e a mostrar a sua felicidade. Os pais do noivo estavam manifestamente pouco à vontade, mas tentavam disfarçar. Apenas Matilde notava esta incomodidade e lhe dava uma muito pessoal interpretação.
"Eles sabem", pensava. Mas não têm coragem de fazer nada. Aliás, fazer o quê, nesta altura do campeonato, divagava a mãe da nubente.
Eram perto das quatro da madrugada quando os últimos convidados saíram. Matilde e Raul estavam desfeitos de cansaço e de preocupação. "Esperemos pelo fim da lua-de-mel, minha querida", disse Raul antes de pegar num sono profundo.
Nem uma notícia, nem um telefonema, nem uma mensagem. Nada. Os noivos estavam mudos e quedos. O fim da lua-de-mel aproximava-se quando, inesperadamente, a filha lhes apareceu em casa.
"Então não era só daqui a três dias que vocês voltavam? E o teu marido? Quando chegaram?".
Antes que as perguntas surgissem em catadupa, Carolina agarrou-se aos pais, e com bastante calma, disse-lhes: "Vocês tinham toda a razão. Ele prefere os homens. Vamo-nos divorciar!".
Helena
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