A condessa já tinha morto três maridos e herdado as respectivas fortunas que iam sempre engrossando o seu património. Os filhos nem piavam perante tanto matrimónio e viuvez porque, no fundo era a eventual herança que ia engrossando.
Aquilo que na realidade os preocupava é que mãe fosse escolhendo maridos cada vez mais novos e em que o risco de serem eles, os eventuais usufrutuários dos bens, se tornava cada vez maior.
A certa altura Cândida - era esse o seu nome - reuniu a família para lhe dar conta de que tinha novo pretendente. Novo, de facto, em toda a acepção da palavra, porque o jovem conseguia ser de uma geração mais recente que a do seu filho caçula.
A reunião foi agitadíssima. Os filhos resolveram lembrar à mãe que os seus sessenta e nove anos eram pouco compatíveis com os trinta do futuro noivo. Nada a demoveu. E nada serenou, é evidente, os descendentes. Nem a garantia, dada por Ernesto - que tinha tanto património como Cândida - de assinar qualquer documento válido, no qual declararia abdicar de tudo o que fosse da futura mulher, sem lhe pedir declaração idêntica.
Chegou o dia do casamento, depois de grandes discórdias quanto ao fato que a mãe devia levar. O acordo veio lá se fechou num sóbrio tailleur café com leite muito claro.
Terminada a cerimónia os noivos foram para lua de mel num belo carro de desportivo que o noivo dera de presente à mulher. Enfim, andaram por essa Europa, cabeça ao vento, mais de um mês. E quando voltaram, a boa disposição era evidente.
Tudo corria bem entre os recém casados. Até que um jantar de ostras haveria de ditar a sorte de Ernesto, que não sobreviveu à força do envenenamento.
De novo Cândida estava viúva. E, outra vez, mais rica porque Ernesto, feliz e sem filhos, a instituíra sua herdeira universal!
Agora, surpresa das surpresas, são os filhos que querem que a mãe termine a sentida viuvez...
Helena