terça-feira, 24 de agosto de 2010

Uma carta de amor

Minha muito querida Ana

Passaram escassos meses sobre a tua partida e eu continuo a entrar em casa convencido que te encontro à minha espera. Ao fim da manhã pego vezes sem conta no telemóvel para te telefonar, como fazia todos os dias. Ao passar na florista do Chiado o impulso é comprar-te as orquídeas de que tanto gostavas. No cinema quantas vezes me não viro para a cadeira do lado para pegar nas tuas mãos ausentes, ou para te segredar aquilo que já não podes ouvir.
A saudade de ti, a saudade de nós, a saudade do que vivemos é uma dor tão insuportável que quase me pergunto como ainda consigo existir.
As noites que antes nos pareciam tão curtas para o muito que tinhamos para nos dar, são agora de uma imensidão sem fim. Tão longas que chego a perguntar-me como eram antes de te encontrar.
O teu cheiro está impregnado em cada objecto do nosso quarto, em cada livro do nosso escritório, em cada peça que decora as nossas salas. Tanta e tão forte é a tua presença que não suporto que a empregada ouse tocar qualquer coisa que tenha passado pelas tuas mãos.
Vivo de ti sem te ter, desejo-te sem te ver, toco a tua ausência e tento fazer dela uma presença.
Sei que isto é mais do que amor. Sei que isto é obsessão. Mas se é dela que eu vivo, como posso querer curar-me, se isso representa privar-me de ti? Que me importa que digam que é doença se é da doença que depende a minha saúde?
Tento viver sem a tua imagem, mas sinto-me como um naufrago à deriva. Tento esquecer-te mas tu estás cada vez mais presente no meu dia a dia. Tu és a minha dependência, a minha sofreguidão, o meu único amor. Enfim, Ana, tu és a minha vida e sem ti eu não existo!


Do teu António

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