Dessa opção de risco e de ilegalidade beneficiaram os dois filhos que, através dela, correram o país - a profissão a isso obrigava - e, por mais estranho que pareça, com tanta mudança, conseguiram estudar.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Uma vida feita a pulso
Dessa opção de risco e de ilegalidade beneficiaram os dois filhos que, através dela, correram o país - a profissão a isso obrigava - e, por mais estranho que pareça, com tanta mudança, conseguiram estudar.
O selo
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Outros tempos
Cresceram juntos, estudaram juntos, divertiram-se juntos. Casaram-se um com o outro. Diogo ria-se com a Rita, sua mulher, quando afirmava que também "... Casámos juntos".
Pertenceram à geração de Maio de 68 e sempre foram considerados de "avant garde".Gostavam do cinema francês da época, eram católicos progressistas e diziam-se personalistas, falando de Mounier como se de um amigo próximo se tratasse. Consideravam-se oposicionistas ao regime da altura e faziam parte dos chamados "grupos de casais", que eram a feição mais moderna da Igreja a que pertenciam.
Enfim, tinham tudo o que na época se entendia serem os ingredientes necessários para constituir a família exemplar. Tiveram três filhos, duas raparigas e um rapaz, que, pese embora terem sido educados com toda a liberalidade, haveriam de contestar, por sua vez, as opções paternas da época.
Teriam passado dez anos de casamento quando Diogo conheceu Marta, uns anitos mais nova do que Rita e Diogo. Era uma mulher vistosa, inteligente e culta que fora colocada no mesmo serviço hospitalar de Diogo. A amizade que começara com a aprendizagem do internato fortaleceu-se a ponto de terem tomado a decisão de constituírem uma sociedade para explorar um consultório. Tudo isto Rita acompanhava com o entusiasmo ingénuo de quem só pensa em consolidar a carreira do marido.
Mas na vida nem tudo corre como planeamos. Mesmo quando não queremos magoar ninguém. E aquela intensa vivência aproximou-os mais do que eles próprios esperavam ou quereriam. Mas o facto é que estavam apaixonados, sem que Diogo tivesse deixado de gostar de Rita.
Naquela tarde de Domingo em que a saída dos filhos os deixara sós, Diogo debatia-se no seu íntimo, sobre o que devia fazer relativamente ao problema que estava a viver. Ou seja e de modo muito cru, interrogava-se a si próprio sobre o que deveria fazer, sobre se deveria contar ou não, o drama que estava a viver. Porque se era isso que lhe apetecia – precisava da ajuda de Rita para tomar uma decisão -, também temia qual pudesse ser a sua reacção. E ele não queria, de facto, perdê-la.
Foi a mulher quem o interrompeu:
- Estás com um ar preocupado, Diogo. O que é que se passa?
- Não se passa nada Rita. Estou apenas cansado.
- Cansado de quê? Agora até tens menos trabalho. E até acabaste de fazer férias.
- Mas que queres? Ando cansado.
- Acredito. Mas não é do trabalho profissional, meu querido. É, sim da trapalhada da tua vida…
- Como assim? Que é que queres dizer com isso?
- Eu, nada. Tu é que devias perceber que ter duas mulheres, é um cansaço!
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
O gerânio
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
O tesouro
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
O jantar
domingo, 20 de fevereiro de 2011
A intimidade dos Pais
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
As duas irmãs
Mas com o passar dos anos aconteceu justamente o contrário. Foram crescendo e então começaram a diferenciar-se muito. Tanto, que já ninguém as confundia e até questionavam como é que duas irmãs podiam ser tão diferentes. Nem os próprios pais conseguiram perceber bem o que se passara.
Cada uma havia de seguir, nesta nova fase, uma carreira profissional bem diversa também. Alexandra seria médica e Adelaide fez-se engenheira. Os amigos e os interesses passaram igualmente a ser muito distintos.
Como seria de esperar em qualquer família normal, acabaram ambas por querer ter a sua própria casa. O que teve como consequência separa-las ainda mais. De facto, duas carreiras muito absorventes, faziam com que só muito esporadicamente se encontrassem ou mesmo reunissem em casa dos pais. Estes bem estimulavam esses encontros mas, por uma razão ou por outra, era sempre muito difícil reuni-las.
Numa tarde em que Alexandra foi visitar os pais estes disseram-lhe que Adelaide tinha arranjado um namorado, mas que ainda ninguém o conhecia. Era um colega e chamava-se Miguel. Pouco interessada no tema, a filha não fez perguntas e a conversa morreu por ali.
Quase um ano decorrido foi a vez de Adelaide saber pelos pais que a irmã havia, finalmente, encontrado alguém com quem decidira partilhar a sua vida. Porém, não queria casar.
Com as dificuldades tradicionais, Adelaide marcou o encontro para apresentar o noivo à família. Tudo decorreria num jantar para o qual ela pedira que todos estivessem presentes. Sugeriu mesmo, que se Alexandra quisesse, seria uma boa oportunidade para ela dar a conhecer o homem com quem partilhava a vida há perto de um ano. Mas ela não não se mostrou interessada.
O choque deu-se quando ambas as irmãs esperavam o aparecimento de Miguel que ficara de ir ter a casa dos futuros sogros. É que quando este bateu à porta, as duas correram, em simultâneo, para o mesmo homem...
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Quem com ferros mata...
A raiva e a tristeza estavam a apoderar-se dela. É claro que, ao menos agora, deixara de ter dúvidas e passara a ter certezas. Mas eram certezas muito dolorosas. Vira-os a beijarem-se no carro. E em moldes demasiadamente esclarecedores.
Clara relembrou o que lhe dissera a sua mãe quando eles casaram. "Toma cautela filha. Ele é muito mais novo do que tu. Agora estás apaixonada e ele também. Mas daqui a uma década, os vossos doze anos de diferença contarão muito mais. Fala-te quem já viveu muito. Um dia vais perdê-lo para uma mulher mais nova e nessa altura a tua fragilidade será maior e a tua capacidade de reagires será menor. Para além de, como sabes, ser natural que ele queira ter mais filhos e tu já não estares em idade de correres esse risco. Pensa bem".
Ali estava ela, onze anos decorridos, e quase com cinquenta, casada com um homem que estava
no esplendor dos seus trinta e oito anos, enlevado por uma garota com a idade dos seus filhos.
Nem conseguia conduzir, tal a força das lágrimas que lhe corriam pelo rosto. Que falta lhe fazia, naquela altura, o pragmatismo materno.
Não conseguiu ir para casa. Foi ter com o seu irmão António, que era aquele com quem ela se abria sempre, desde a morte da mãe. Ele ouviu-a com toda a atenção e disse-lhe: “o que eu devo dizer-te é que te acalmes. E que penses que aquilo que o João agora está a fazer foi o que, afinal, tu também fizeste, quando decidiste ficar com ele. Ambos estão no mesmo patamar.
Só tens duas soluções. Ou esperas, como a Teresa esperou, apesar de o ter perdido para ti. Ou não és capaz disso, separas-te e entrega-lo de mão beijada a essa sua nova paixão.
Tudo o resto são fantasias. Só tu é que sabes a força que tens”.
De repente, Clara percebeu. Doía, mas sabia que o irmão tinha razão.
Voltou para casa e recebeu o marido com a melhor disposição sabendo que, quem com ferros mata, com eles pode morrer…
Helena
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Inesperadamente...
Mas o ano foi tão cansativo, as viagens foram tão frequentes, os jantares e almoços de trabalho tão desgastantes, que ela só quer fazer uma paragem total. Serão trinta dias seguidos longe do ruído da cidade, dos telemóveis, dos mails e, sobretudo, das reuniões em série. Mas no preciso momento, em que mal tinha acabado de sorrir a esta perspectiva, a luz e o som do telemóvel deram sinal.
Ainda hesitou em atender. Só podia ser trabalho, pensou. Mas, depois, admitiu que fosse algum dos filhos ou o marido, que ficara de chegar nessa mesma noite.
Com certa relutância acabou por responder. Era a secretária a avisá-la “que tinha havido uma alteração na vida do Senhor Engenheiro, que já não podia chegar nessa noite, e que precisava da presença da Senhora Arquitecta, em Paris, no dia seguinte. Não sei se fiz bem ou não, mas permiti-me marcar já o voo, para o avião que sai mais cedo amanhã”, acrescentou.
De há dois anos para cá, nada havia de rotineiro, na sua vida. Pelo contrário, cada dia era uma completa incerteza, apesar de tudo ter feito para que a serenidade e a pacatez fossem a sua forma de envelhecer.
Tinham comprado aquela pequena quinta, lindíssima, para poderem disfrutar juntos, todo o tempo livre de que dispusessem. E, sempre que era possível, fugiam para lá, onde se escondiam do mundo e viviam um para o outro, raramente saindo do seu canto. Os amigos davam-lhes imensas piadas por este amor tardiamente encontrado, mas eles riam-se e continuavam a viver como gostavam.
É certo que tinham um tipo de trabalho muito intenso, e passavam algum tempo separados. Mas qualquer deles sabia disso quando decidiram partilhar a vida. E, curiosamente, ambos achavam, ideal a sua situação. Não estavam nem demasiado tempo juntos, nem excessivamente afastados.
Era tudo “quanto baste”, e o gosto que cada um tinha nos reencontros compensava, amplamente, a pena das curtas separações.
Só que a ida de Francisco para Paris, embora fosse apenas por dois ou três anos, viera alterar, um pouco, o equilíbrio de que antes usufruíam. Não se consegue ter tudo, pensava Marta na mesa de um café de estrada, antes de retornar a Lisboa.
Pagou, saiu, entrou no carro e a meia voz exclamou “só eu”. Mas depois, a sorrir, acrescentou “só eu e aquele louco”.
Pegou no telefone e falou para o filho mais novo. “Alteração de última hora: sigo directa para Paris”, arriscou.
Do outro lado do fio, uma risada sonora e “vocês são completamente doidos”. Ainda se lembra de, mesmo antes de desligar, Pedro ter acrescentado, com voz sibilina “foste tu que falaste em férias? Julgo que sim mas, claro, isso é para gente normal, esqueci-me que se tu não existisses terias, mesmo, que ser inventada”.
O choque brutal, de frente, quase desfez o carro. O corpo teve que ser desencarcerado. Marta mantinha o telemóvel fechado nas suas mãos…
Uma história surpreendente
"Faz favor de entrar Senhora D. Isabel" disse Ana, a empregada.
O casal levantou-se e dirigiu-se para a sala do médico. Foi nesta ocasião que uma das raparigas contou à outra a história que se segue.
O casal era apenas mãe e filho. A senhora tinha oitenta e quatro anos. Ficara viuva há uma década de um marido que, não sendo propriamente despótico, nunca a deixara ser quem era, mas sim e apenas, quem ele queria que ela fosse. Desse casamento haviam nascido três filhos. E destes uma meia dúzia de netos.
Passados dois anos sobre a morte do marido, portanto com setenta e seis anos, decidiu reunir filhos e netos para lhes anunciar que encontrara alguem que considerava especial e que tomara a decisão de viver esse encontro da melhor maneira, ou seja conforme as regras que ambos estabelecessem. Os filhos, atónitos, nem reagiram.
Mas Isabel ali estava para provar a inteligência da sua opção. Que vivia, encontrando-se com o homem que amava, todos os fins de semana, num hotel. Juntavam-se à sexta feira ao fim da tarde e separavam-se no Domingo, à mesma hora.
E, para celebrar o encontro, todos os anos faziam uma viagem romântica ao estrangeiro, aos locais que desejavam visitar em conjunto.
Resta acrescentar que o protagonista masculino deste romance, igualmente viúvo tinha, quando a encontrou, setenta e dois anos, portanto menos quatro do que Isabel. Ambos eram pessoas cultas, interessantes e com formação universitária.
Vai para nove anos que este "amor" se mantém e, diziam as jovens, nada parecia abalar o que ambos sentem um pelo outro!
Helena
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
O "meu" Porto
Mas atenção, falta aqui referir senão o mais importante, pelo menos, o mais agradável, que é passar umas horas a fazer compras nas boas lojas da capital nortenha ou num dos seus grandes centros comerciais, onde poderemos sempre ter algumas gostosas surpresas.
Este é o roteiro abreviado do meu Porto, aquele que nunca me cansa revisitar. Mas se só lá for por uma ou duas horas, basta-me passear pela Foz para me sentir completamente retemperada!
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Conversa de combóio
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Encontros fortuitos
Decorridos uns meses, foi necessário renegociar. No mesmo local, o mesmo acordo. Nessa altura, por mero interesse de oportunidade, ambos defendiam o mesmo projecto, que foi aprovado. Ambos saíram, portanto, a ganhar.
Xavier estava contente e apetecia-lhe celebrar o sucesso da proposta conjunta. Perante o convite de Xavier para jantar, Alda resolveu aceitar. A refeição foi agradável e permitiu-lhes estabelecer um clima de agradável cordialidade. E até de alguma intimidade, que os levou a falar das suas vidas.
Ele era casado com uma americana e tinha dois filhos adolescentes. Não era feliz, mas mantinha o matrimónio que, pelo menos, tinha virtude de o não incomodar e permitia aos filhos certa estabilidade familiar
Ela era casada também. Não tinha filhos e o marido um economista obcecado pela profissão, dava-lhe, por isso, grande liberdade para o exercício da sua vida profissional. Não era infeliz mas a relação era morna e estava longe daquilo com que sonhara.
Disto tudo falaram concluindo estarem ambos em condições propícias a que alguém, um dia, fizesse uma fractura em qualquer das uniões.
A reunião acabara a uma sexta-feira e Alda tinha decidido voar de Bruxelas para Paris no dia seguinte. Xavier que trouxera carro e vivia na capital, desafiou-a fazer com ele a viagem de volta. Alda aceitou. A meio do percurso resolveram parar para comer, num pequeno hotel de charme.
Nem um nem outro sabem explicar o que os levou à loucura de lá ficarem. Mas fizeram-no conscientemente. E foi muitíssimo prazeirosa a decisão.
Retornados a Paris, Xavier levou Alda ao aeroporto. Pouco falaram. Mas por uns minutos não se largaram abraçados um ao outro.
Hoje Alda, passados cinco anos sobre este acontecimento, retorna a Bruxelas para outra reunião. Pergunta a si própria se Xavier estará lá e que reacção terá. Estava, de facto.
Voltaram de novo juntos para Paris. Pararam no mesmo hotel e de novo resolveram lá ficar. Mais uma vez com muito gosto. De novo foi no aeroporto que se despediram. E, longamente se abraçaram. Há pequenas felicidades assim na vida de todos nós!