segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Bígamo

Sempre teve duas mulheres. Nem alguma vez, se pensou a viver de modo diferente. Filhos é que não. Esses, aliás, essas - porque de duas raparigas se tratava - eram nascidas da "legítima", com quem se manteve casado mais de 25 anos.
Mas, um dia - há sempre um destes terríveis dias -, a segunda fartou-se e encostou-o contra a parede. Mais concretamente, ou ele se casava com ela, ou o caso - que tinha quase tantos anos como o próprio matrimónio - morria de morte natural.
Encurralado, António foi obrigado a escolher. E escolheu separar-se da primeira, tendo já em vista quem iria ocupar o lugar da segunda.
Assim iniciou todas as demarches que o caso impunha. Aldina só lhe fez uma exigência. A de que a morada de família, propriedade de ambos, fosse transferida para o nome das duas filhas. O assunto nem sequer mereceu discussão. Mas António não deixou de ficar surpreendido com a facilidade com que a mulher aceitou os novos factos. Até, talvez, tenha ficado mesmo incomodado. Que diacho, tanta naturalidade, era chocante.
Outro dia - nem seis meses sobre o divórcio haviam passado - o nosso homem recebe um telefonema da ex- mulher a pedir-lhe que vá falar com ela. Ficou preocupado porque tal nunca, até aí, acontecera.
Chegado o dia lá se juntaram num café. Aldina começou e o diálogo foi assim:
- Depois de mais de 25 anos de vida em comum, entendo que devo ser eu a dar-te a notícia.
- Que notícia? indagou António
- A do meu casamento.
- Do teu casamento? Mas ainda nem sequer passaram os nove messes que a lei vos exige...
- Não faz mal, porque me vou submeter a um exame no Instituto de Medicina Legal que atestará que não estou grávida e, assim, já posso casar mal prefaça seis meses de separação.
- Mas porquê tanta pressa?
- Bom, é sobre isso que te desejo falar. É que quero que saibas por mim e não por qualquer outra pessoa que, há dez anos, mantenho uma ligação com o homem com quem, agora, me vou casar.
- O quê?!
- Apenas isso que ouviste.
- Então foste adúltera durante o nosso casamento?
- De certo modo sim. Tanto como tu, aliás. Mas agora, pelo menos, podemos ambos corrigir a situação!

Helena

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