segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aprendizagem...

Há quem diga que ela era bipolar. Desde que perdera o rapaz da sua vida, que esta tendência começara. Mas não se julgue que a Isménia era tola ou que estas alternâncias de humor seriam formas de chamar a atenção dos outros. Não senhor, porque ela sempre fora rapariga equilibrada. Mais dada a tristezas, é verdade, do que a alegrias. Mas isso, todos sabemos, está na alma de muitas portuguesas que, pese embora não cantem fado, não deixam de lhe glorificar com o exemplo, as contrariedades da vida.
Todavia, quando conheceu o Tobias, tudo se modificou. O rapaz, filho de emigrantes e já nascido em França, tinha um modo de falar e de olhar as pequenas da terra, que as deixava enfeitiçadas. Mas foi na Isménia que ele encalhou, talvez, quem sabe, porque o tipo dela, loira e de olho azul, lhe lembrava a Adele, a francesa com quem ele se iniciara nas lides sexuais e que tinha uma boa dezena de anos a mais do que ele...
Assim, aquelas "vacancias", como ele próprio dizia, foram uma forma de ter uma Adele da sua idade, na sua terra. E foram para Isménia a descoberta de algo que não conhecia. 
Primeiro, a medo, quase julgou que "aquilo" a matava. Logo depois, passou a gostar e, finalmente, o cozinhado virou gourmet de alta qualidade...e em tal quantidade que o pobre Tobias parecia ter olheiras desde a nascença.
As férias acabaram e o jovem voltou à pátria. Porém, Adele parecia-lhe, agora, um pãozinho sem sal, made in France. O seu iniciado só queria dar-lhe lições de como fazer melhor, o que ela antes julgara fazer muito bem . 
Isménia tornou-se uma sex symbol na sua terra. E aprendeu a tirar partido disso. Primeiro foi o Presidente da Junta de Freguesia. Depois o Presidente da Distrital, que a trouxe para a cidade. Dali veio para a capital fazer trabalho no partido.
Trabalhou tanto que encantou um futuro deputado. Que acabou por se casar com ela. Mas a rapariga aprendeu que na política, o melhor é mandar. Por isso "despachou" o deputado e agora é ela a candidata. E consta que ambiciona chegar a lider parlamentar.

Helena

sábado, 11 de agosto de 2012

Também acontece



Eram cinco irmãos tão diferentes como os dedos da sua mão. Era isto que Olímpia dizia  quando se referia aos filhos.
A primeira, Adozinda, fora fruto de um parto complicado e vira sempre a sua vida como a consequência directa desse facto. O segundo, Francisco de seu nome, havia de ser o contrário. Parto fácil e rápido tornaram-no um rapaz despachado, alegre e com gosto pela vida. A terceira, Floripes, viu a luz do dia antes de tempo e, quem sabe, por causa disso, fora sempre frágil e assustadiça, como que a pedir desculpa ao mundo por se ter adiantado. O quarto, Adriano, era um rapagão que ia pondo a vida da mãe em risco mal soltou o primeiro gemido. Havia de continuar, vida fora a inquieta-la porque escolhera o boxe como carreira e nunca se sabia em que estado voltava para casa. A última, Felismina  já nascida fora de tempo, foi contudo aquela que menos trabalhos deu. Era uma criança risonha e feliz.
Todos eles tinham paternidade diversificada. Mas isso não impediu que surgisse o sétimo elemento desta família, o Gervásio, que se apaixonara por esta mãe de família e, para a ter consigo, acabou levando o pacote todo, ou seja o clã completo, que acabaria por ajudar a criar.
Os anos passaram, a Olímpia já não era nova, e os tempos haviam-na ensinado a ser egoísta  Assim, cansada de ser mãe a tempo inteiro, quando chegou a altura decidiu juntar-se, de novo, ao pai da última filha, deixando contudo a Gervásio, os filhos que ele ajudara a criar.
E este não só aceitou a incumbência como exigiu dar-lhes um nome, que eles não tinham. O quinteto perdeu a mãe biológica, mas ganhou um pai adoptivo. Ainda há histórias de homens bons que casam com mulheres egoístas e que têm finais felizes...

Helena