segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um professor


Era um homem simples que conheci por ser tio de uma colega de liceu. Ensinava no então Instituto Superior de Ciência Económicas e Financeiras, mais conhecido por ISCEF.
À época eu tinha quinze anos e o meu terror era a Matemática. Boa aluna em tudo o resto, andava pelo suficiente nesta matéria. Aliás, escolhera ir para economia, por haver no curso duas áreas que não exigiam saberes profundos de aritmética.
Mas o destino tece armadilhas e quando estava a um ano da entrada no curso superior surge , inesperadamente, a sua reforma. E esta, por ironia, tornava obrigatórias as Matemáticas e os Cálculos. Pensei desistir. Mas a minha mãe não mo permitiu. Felizmente!
Foi então que me lembrei, a seu conselho, de ir falar com o tal tio da minha colega, o Dr Laginha, que era assistente do Prof. Bento Gonçalves, um dos mais temidos na Faculdade. Do diálogo saíu o vaticínio que determinaria a minha vida profissional.
O que ele me disse foi simples: "tiveste um mau ensino destas matérias. Mas se estiveres disposta a abdicar das férias e a estudar bem, percebendo, o que já sabes acredito que tirarás o curso sem dificuldades".
Foi o que fiz. Durante três meses aquele santo homem deu-me diariamente lições pelas quais me não cobrou um cêntimo. E eu comecei, de facto, aos poucos, a perceber para que servia tudo aquilo que apenas decorara.
Posso dizer que foi um mundo novo que se me abriu. De tal modo importante, que fui a melhor aluna nas cadeiras que exigiam preparação naquelas matérias. Mais, a economia matemática é não só, hoje, o meu domínio de eleição, como por gosto fui, durante anos, professora de Álgebra e Cálculo nos estabelecimentos universitários onde leccionei.
Moral da história. O medo dos números está quase sempre ligado à qualidade de quem ensina e à falta de compreensão daquilo para que serve o que nos é ensinado. Ora os números, ou melhor, o raciocínio matemático, servem para quase tudo o que constitui o nosso quotidiano. Sem que tenhamos consciencia disso, ele está na base de uma série de opções que tomamos.
Foi, afinal, o que aquele homem simples me ensinou. Estar-lhe-ei eternamente grata por isso!

Helena


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