sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Saudades...

O táxi chegou ao aeroporto da Portela mesmo em cima da hora. Detesto que isto me aconteça, pensou Sofia, enquanto corria para a fila, já reduzida, do check in. Quando se aproximou do balcão ouviu, nos altifalantes, a última chamada para o seu vôo.
Nova corrida para a sala de embarque e para o último bus que a levaria ao avião. Finalmente podia descansar. Já sentada, recordava a azáfama dos últimos dias e o risco, sempre iminente, de ter de cancelar a viagem, tantos os problemas que haviam surgido...
Mas agora preparava-se para uma semana na cidade luz. Talvez, quem sabe, até sejam dez dias, admitia. Voltar a Paris era retornar a casa. Aquela que, afinal, ia sentindo cada vez mais como sua.
Eram duas as suas vidas. A de cá, de Lisboa e a de lá. Aqui tinha a família e uma vida profissional ainda intensa. Mas em França tinha o seu coração, bons amigos e, sobretudo, liberdade para viver como queria e gostava. Sem espartilhos.
Há já bastante tempo que transportava em si duas mulheres, sem que isso lhe causasse qualquer incómodo. Em Portugal vivia de acordo com determinadas regras. Mais circunstanciais, até, do que próprias. Em Paris, ao contrário, normas era o que menos tinha. Vivia sem pré definições, era estrangeira, não tinha submissões.
O avião aterrou. Como sempre acontecia tinha um prazer especial em chegar sem avisar. Levava uma mala pequena, porque também aqui tinha tudo o que precisava.
O ritual era sempre o mesmo. Chegava a casa, deixava a maleta, dava um arranjo à cara e saía. Passeva junto ao Sena, tomava um café e ia sem destino aos sítios que guardava na memória . Aquilo que importava, na ocasião, era matar as saudades. Inspirava fundo como se aquele ar lhe limpasse os pulmões. E só voltava a casa quando a luz rosa do céu, lhe dizia que eram horas. Quase sempre por volta das oito.
Enquanto metia a chave à porta, a música de jazz vinda do interior anunciava que alguém estava à sua espera...

Helena

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