Estavamos nos anos da guerra e com senhas de racionamento para tudo o que barriga pede para se alimentar. Mas, mesmo que elas não existissem, na casa dos seus Pais a pobreza foi sempre o prato principal.
José tinha oito anos e levantava-se pelas cinco da manhã. Um bocado de pão seco e uma caneca de leite eram o sustento para a caminhada. Fizesse sol ou chuva, lá ia o garoto por montes e vales aprender o que a D. Odete tinha para lhes ensinar.
Os anos foram correndo e a primária acabou mesmo a tempo da madrinha, bem velha, lhe dar a mão, permitindo-lhe assim fazer-se ao liceu. Foi quando calçou o primeiro par de sapatos.
O adolescente sentia que os estudos lhe acalmavam a ansia de saber e faziam dele uma pessoa feliz, apesar das dificuldades.
Acabado o liceu, José já sonhava com a Universidade. Mas quem lhe dera guarida e apoio para o secundário, não lhe podia valer para o ensino superior. Ele sabia disso.
A mãe tomou uma decisão dura. Abalariam para a cidade e ela iria trabalhar já que acreditava que o marido algo havia de arranjar. Assim foi.
E o Zé, acanhado mas com os olhos a brilhar, ganhou a bolsa que lhe havia de aliviar a compra dos livros. Foi um bom aluno. Seria economista.
Tropecei nele no meu primeiro ano de trabalho. E, um dia, soube esta história a seu respeito. Haveria mais tarde de o reencontrar na chefia de um posto. Foi uma figura importante na vida deste país.
A idade afinou-lhe, se possível, ainda mais, a capacidade de entender. Não prega sermões nem tem medo das palavras e ouvi-lo é ter a certeza de que se fica sempre a saber mais sobre alguma coisa.
Helena
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