quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Aquela noite

"Logo que esteja tudo em ordem e tenha falado com os miudos, telefono-te. Penso que poderás voltar pelas 11horas da noite", disse-lhe Jaime, antes de desligar.
Natália ficou a olhar o aparelho como se esperasse alguma coisa mais, uma frase, um suspiro, um adeus, enfim, algo que não fosse aquela conversa natural, que, de tão natural, a exasperava...
Havia, pois, que passar o dia e parte da noite com alguem. De preferência uma amiga. Foi Maria a escolhida porque, de facto, ela era a pessoa que mais tinha acompanhado todo este doloroso processo. Quando a meia noite se aproximava, o telefonema chegou. Natália podia voltar para casa. E voltou.
Meteu a chave à porta. Estava tudo escuro. Nem um ponto de luz aceso. Foi ao quarto dos garotos que dormiam tranquilamente. Atirou as chaves e a carteira para a cadeira da entrada e entrou na sala.
O silêncio era total. Ao longe, pela janela, viam-se luzes. Atirou-se para cima do sofá e fechou os olhos. Nem uma lágrima deitou. Depois olhou em redor e percebeu que estava realmente só. Só, mas com dois filhos a entrar na adolescência, para educar.
O que é que eu vou fazer da minha vida? perguntava-se a si própria. Como é que eu vou aguentar?
Nunca um silêncio foi tão pesado, uma dor tão intensa, uma dúvida tão persistente, um desencanto tão magoado. Ela sabia que a vida continuava. Só não sabia como continuaria a dela, sem Jaime... Ficou, assim, parada, imóvel. Até a luz solar lhe bater nos olhos e a acordar de um sono que, na verdade, não chegara a existir.

Helena

1 comentário:

  1. uma estória de gaffes que li:
    há coisas....

    http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/21196.html

    ResponderEliminar