quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um olhar

"Era ali.
Talvez porque existam muitos livros ou porque a noção de História se insinue permanentemente, entrelaçada com o discreto som de um piano.
Ou ainda pelo perfume da madeira encerada suavemente.
Era ali, depois da ascensão carmim, segurando um cálice ou remexendo as folhas, que os nossos olhos se encontrariam".

Há textos que nos lembram fases da vida ou episódios semelhantes pelos quais tenhamos passado. Li estes parágrafos e, como se entrasse numa máquina do tempo, lembrei-me. Primeiro de mim. Adolescente insegura, um pouco solitária, mas em compensação, ávida de perceber o mundo que me rodeava. Depois dele, o meu contrário. Já não adolescente, mas jovem seguro de si e do impacto que nos outros causava, lindo como era. E inteligente, numa mistura injusta para todos os que a não tinham tais predicados ou que apenas de um deles gozavam.
Durante meses vi-o nos claustros da Faculdade e julgo que terá sido então que me terei apaixonado. Digo julgo porque, hoje, já duvido muito de paixões sem diálogo. Mas ao tempo, como eu, muitas colegas minhas o terão cobiçado.
Um dia, numa queda, ele amparou-me. Foi quando os nossos olhos se cruzaram. E as nossas vidas também. Sem que nunca fisicamente nos tenhamos entregado, esta "estória" havia de me acompanhar até hoje. Morreu há muitos anos. Mas o retrato de um nosso abraço em terras distantes, continua bem presente numa mesa da minha sala.

Helena

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