segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As cores

No princípio era tudo branco. Tudo limpo. Mas o homem nunca está satisfeito. E experimentou com o seu sangue manchar o branco. Foi surpreendente. De repente o vermelho começou a alastrar. Devagar, sentindo que se estava a transformar. E o rosa foi surgindo, esplendoroso.
Mas a imaginação não tem limites. Uns pingos de preto prepararam o carmim e fizeram-no crescer. Este, intenso, sensual decidiu escolher com quem se misturar. E descobriu o amarelo de quem se aproximou. Todavia a fusão não foi fácil, porque o amarelo é dificilmente seduzível e fez-se rogado.
Aí o carmim, astuto, disfarçou-se de verde e rondou, de novo, o seu amor. Este, tolo, entregou-se nos seus braços. E de repente, sem que se esperasse, o verde surgiu cheio de força.
O amarelo percebeu que fora enganado. Mas dos enganos, por vezes, surgem ideias novas. Foi o que aconteceu. O amarelo descobriu que por seu intermédio, a panóplia das cores era incomensurável.E dele nasceram não só outros coloridos, como uma imensa profusão de nuances.
Como num caleidoscópio, as cores começaram a sentir o prazer da liberdade. E da mistura. De um arco-iris inicial de sete cores, fez-se a multiplicação cromática. Até o branco, alvar e virgem, se deu ao luxo de não querer continuar a sê-lo. E como o amarelo, também ele se sentiu rei e senhor.
Foi assim que o mundo deixou de ser neutro. Prazenteiramente. O modelo pegou e chegou às pessoas. Que, igualmente, ganharam cor e se misturaram...

Helena

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