Esta é uma história verídica. Apenas os nomes, o tempo e os locais foram alterados. E é a prova de como a realidade, por vezes, ultrapassa a ficção.
Na Faculdade de Letras, o Professor Matos era considerado uma das mais brilhantes mentes de que o corpo docente dispunha. Tudo nele transparecia harmonia. Nas suas aulas, sempre cheias, aprendia-se literatura moderna e o gosto de cada autor por razões que, por norma, passavam despercebidas aos menos habilitados.
Pouco ou nada se sabia da sua vida. Constava que tinha um filho, bom poeta, mas que escrevia sob pseudónimo. Não se lhe conhecia mulher nem estado civil. Tão pouco amizades especiais entre os colegas ou os discentes.
Essa aura de mistério aliada a uma natural discrição, faziam dele um dos homens mais cortejados da instituição. Mas Fernando Matos lidava bem com essa circunstância e não dava aso a quaisquer histórias.
Homem de sessenta anos muito bem conservados, o cabelo sal e pimenta e um olho azul de fazer inveja a qualquer nórdico, vestia quase sempre de forma casual chic, o que lhe aumentava, mais ainda, o sucesso pessoal.
Até que no ano de 1980 surgiu Laura, a sua melhor discípula de mestrado, aquela que se oferecia sempre para o ajudar, a que sabia tudo o que ele perguntava. Os colegas riam-se, porque conheciam a indiferença do professor perante tal tipo de alunas. O que não sabiam era da persistência desta nem da sua inteligência.
Com efeito, quando o ano terminou ela teve a mais alta classificação na cadeira. Decidiu, por isso, atirar-se ao doutoramento na área e pediu ao Prof. Matos para ser o seu orientador. Não havia como recusar.
E, ao fim de dois anos, Laura ganhava duas batalhas. Doutorava-se e casava-se com o mestre, passando a ter por enteado Alexandre, que tinha a sua idade e com quem foi criando laços de afecto que deixavam Fernando Matos agradecido e feliz.
Tudo o que o poeta escrevia era, agora, previamente apreciado por Laura, cujos conselhos se tornaram preciosos. E ela tinha em Alexandre o companheiro para tudo aquilo que Fernando, mais velho, dispensava.
Porém, numa ausência de marido que decidiu participar numa conferência do outro lado do Atlântico, o imprevisível aconteceu. E o previsível também...
Três meses depois, Laura estava grávida. De quem, ela não estava segura.
A questão que se lhe punha era não só saber quem era o pai e o avô, como decidir, não o sabendo, se devia contar ao marido o que se passara. E tornar, muito possivelmente, quatro pessoas infelizes.
Optou por não contar. Nem a um nem a outro. Os anos decorreram tranquilos. Laura quase se esqueceu da dúvida que a consumira tantos anos.
E só muito mais tarde, já viúva, quando necessitou de uma transfusão de sangue para a filha, é que teve a certeza de que o pai era Alexandre...
Helena
Helena
ResponderEliminarJá a seguia e conhecia quando a Helena era Jornalista - e excelente. Eu também: jornalista, mas não excelente...
De há uns tempos a esta parte, e através do «Duas ou três coisas» do meu Caríssimo Amigo Francisco Seixas da Costa, reencontrei-a com enorme prazer. Continua a escrever divinamente e, se dúvidas houve (que não há) bastaria a estória acima para que elas se dissipassem.
Fico-me. Não vim aqui para a bajular, coisa que nunca fiz, não faço e creio que não farei. Mas apenas para lhe dizer quanto a admiro. Mesmo que sejamos de quadrantes diversos. O que não me importa absolutamente nada...
Qjs = queijinhos = beijinhos
Meu caro Henrique
ResponderEliminarBem haja pelo alimento que deu ao meu "ego". Também eu o tenho seguido na casa do nosso comum amigo.
Na minha idade uns entediam-se no silêncio. Eu divirto-me a escrever. E a ler. E, sobretudo, a viver!
E agora, amigo, quanto a quadrantes, também lhe digo que dos quatro que conheço, fico-me pela lua cheia. Que tem a vantagem de ser lua nova no outro hemisfério...
Mas tem toda a razão. Os quadrantes hoje e agora não importam absolutamente nada.
Aliás, eu e a esquerda sempre nos atraímos, quando não, até namorámos. Ela sempre atrás de mim, a tentar-me. E eu, sabida, a fugir-lhe. Mas cedendo um bocadinho, como convém ao jogo da sedução.
Adorei a sua visita hoje. E também eu lhe mando queijos=beijos=abreijos
Helenamiga
ResponderEliminarÉ assim que trato as pessoas de quem gosto ou, mesmo, as que mais admiro. Por Amiga(o) naturalmente. Por isso...
Li-a, leio-a e pretendo continuar a lê-la se o «forno crematório» não mo impedir. O que espero. Diz o povo que pagar e morrer quanto mais longe melhor. Fico-me pela segunda alínea.
Estou em sintonia com Vossa Insolência: a Amizade sobreleva quaisquer diferenças; prezo TODA(O)S as (os) minhas (meus) Amiga(o)s sem distinção de cores, de raças, de ideologias. A minha mulher Raquel desde há quase 48 anos é Goesa...
Importantes são as ideias; confrontá-las, discuti-las, descobri-las, isso, sim. Daí que goste de si.
Qjs