Catarina nunca fora uma pessoa fácil. Tivera uma educação muito severa marcada por um pai tardio e uma mãe com metade da idade do marido, a qual fora, por sua vez, preparada para ser apenas a mulher de alguém e a sua dona da casa.
Ambas, mãe e filha, sempre desejaram ter uma vida diferente da que levavam e, talvez por isso, o seu relacionamento não era o melhor. Catarina culpando a progenitora da sua insatisfação. E esta última considerando que era por causa da filha que não tinha a coragem de romper com o seu modo de vida.
Uma fez-se mulher e a outra envelheceu. Em mundos separados que ambas desejavam juntar, mas sem nenhuma ser capaz de dar o passo.
Chegou a vez de Catarina dividir a sua vida com um colega de trabalho. E, por mais surpreendente que possa parecer, a escolha do companheiro recaiu sobre um homem que parecia ser o fiel retrato do pai que lhe coubera.
Talvez consciente desse facto, quando Inês nasceu, a mãe prometeu a si própria que a relação entre ambas seria diferente daquela que ela havia antes experimentado. De facto, tentou que assim fosse. Mas não conseguiu.
Inês parecia só gostar da avó materna, com quem mantinha um contacto muito próximo.
Quando esta morreu, a neta sentiu que lhe faltava o chão. Perdia o seu grande sustentáculo, a sua maior amiga, aquela a quem tudo contava. No fundo aquela que gostaria de ter tido como mãe.
E quando, num dia, Catarina fez uma derradeira tentativa de se aproximar da filha, esta reagiu, retorquindo que era tarde para as palavras que haviam ficado por dizer...
De facto, nem sempre é fácil sabermos qual o caminho escolher!
Helena
Helenamiga
ResponderEliminarQuando a tarde é tarde mesmo, nenhumas palavras, mesmo as que ficaram por dizem, cabem no entardecer.
Mais uma belíssima estória.
Qjs