Era uma tarde esplêndida de Outono. Um sol baixo, a rasar o chão, pontuava as cinco horas da tarde, que uma ligeira brisa tornava ainda mais agradável.
Joana estava estendida numa cadeira de lona na soleira do terraço da sua casa no Alentejo. Casa para onde fugia sempre que o trabalho permitia.
Quem a visse, olhos semi cerrados, o livro abandonado no regaço, pensaria que estava a dormir. Não estava.
Apenas recordava uma tarde igual àquela, no mesmo local e quase à mesma hora. Só que tinham passado quinze anos sobre essa data. Tarde na qual, segura de si e da sua carreira, dissera a Pedro que o seu lugar não era ao lado dele, que seguia para os Estados Unidos, mas em Lisboa onde pretendia fazer o seu doutoramento.
Hoje tem dúvidas sobre as certezas de então. Tem uma profissão de que gosta e onde é respeitada e admirada. Mas quando chega a casa, tarde, ouve os seus próprios passos. E isso começa a pesar-lhe.
Joana sabe que se tivesse ido com Pedro poderia estar a responsabiliza-lo por não ter uma vida profissional própria, por não ser, nesse campo, uma mulher realizada. Mas teria uma família, filhos, gente que a rodeasse de afecto.
Joana tem amigos e amigas que a estimam e gostam dela. Mas não tem o casulo que sempre desejou. É claro que teve outras oportunidades de constituir família. Mas o dilema pôs-se sempre e ela não conseguiu dar o passo necessário a uma tentativa de conciliar os dois mundos que tanto ambicionara.
Era nisto que pensava quando a aragem se tornou mais fresca e os últimos vestígios de sol desapareciam no horizonte.
Enroscou-se na manta que tinha na cadeira, e levantou-se murmurando baixo, para si própria, "há dias assim!".
Helena
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