Nem em casa havia restos que lhes matassem a fome, naquela aldeia do fim do mundo onde vivia com os avós já bem velhotes. O nosso herói tinha doze anos e se conseguia juntar as letras, era porque uma prima mais velha, que lá fora passar uns dias, lhe ensinara como elas se misturavam.
Depois, quando a camioneta da carreira passava lá em baixo na estrada, o senhor Joaquim, que tinha pena dele, deixava-lhe numa gruta da estrada, algumas folhas de jornais com que ele se ia treinando. Era o segredo deles.
Mas escrever, ele não tinha conseguido aprender, porque nem sempre havia lápis ou caneta para o fazer. No Verão ainda tentava com um graveto copiar as letras dos jornais. Contudo, nem sempre conseguia soletrar o que pretendia escrever.
O que ele sabia fazer bem era tratar dos animais. Duas galinhas, um galo e dois coelhos iam dando para a reprodução. As batatas e uma urtigas iam fazendo o resto da alimentação familiar. E sabia, também, tratar do gerânio que nascera dumas sementes que a prima lá deixara. Na Primavera falava com ele que, por isso, pensava, crescia a olhos vistos.
Só duas vezes fora à aldeia e apanhara uma sova dos avós por ter gasto num vaso, uma nica do dinheiro que era para a farinha.
Primeiro morreu a avó. Logo a seguir o avô. Foi ele que os enterrou. Jaime ficou só com os bichos e o gerânio grande empinado, agora, numa tigela onde antes se fervia a sopa.
O Inverno passou e numa manhã de Primavera o roncar de um carro parou à porta do casebre. Era um homem franzino que lhe disse ser da Assistência Social e que vinha ali para o levar, porque ele era menor.
Jaime não percebeu bem o que era ser menor. Ele sempre se achara de boa altura. Mas não queria sair dali porque, mentiu, "o avô fora à capital ver a filha e só vinha dali a uma semana".
- Mas o teu avô não morreu?
- Não senhor.
- E a tua avó?
- Foi com o meu avô ver a minha tia.
- Mas nós temos informação que eles morreram.
- Ah! Sim? E então em que cemitério estão? Só se foi em Lisboa.
- E a tua tia tem telemóvel?
- O que é isso?
O homem não continuou a conversa e julgou que o melhor seria lá voltar, mais tarde, com a polícia. Jaime bem percebeu o risco que corria. E, pela noite, atrelou o burrico à carroça, meteu-lhe dentro os animais que bem tentaram fugir e abalou. Tinha andado uns quilómetros quando parou e voltou atrás para pegar no gerânio grande. De seguida fez-se ao caminho.
Diz-se na aldeia, que naquele sitio, os gerânios crescem sempre fortes, lindos, cheios de cor!
Helena
Um texto muito bonito,eu adoro escrever assim como adoro fotografar sei que dou erros mas isso não me desanima continu-o a escrever e a ler e a fotografar sonho um dia em ser fotografa de viagens e também escrever as minhas aventuras enquanto isso não acontece vou escrevendo no meu blog.
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