sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Encontros fortuitos

Eram ambos burgueses de classe média alta. Conheceram-se no estrangeiro, no fim do século passado, durante uma reunião de trabalho, em Bruxelas. Estavam em lados opostos das respectivas barricadas. Ele francês, ela portuguesa. Irritaram-se, por várias vezes, durante as negociações. Mas no final ela saíu vitoriosa.
Decorridos uns meses, foi necessário renegociar. No mesmo local, o mesmo acordo. Nessa altura, por mero interesse de oportunidade, ambos defendiam o mesmo projecto, que foi aprovado. Ambos saíram, portanto, a ganhar.
Xavier estava contente e apetecia-lhe celebrar o sucesso da proposta conjunta. Perante o convite de Xavier para jantar, Alda resolveu aceitar. A refeição foi agradável e permitiu-lhes estabelecer um clima de agradável cordialidade. E até de alguma intimidade, que os levou a falar das suas vidas.
Ele era casado com uma americana e tinha dois filhos adolescentes. Não era feliz, mas mantinha o matrimónio que, pelo menos, tinha virtude de o não incomodar e permitia aos filhos certa estabilidade familiar
Ela era casada também. Não tinha filhos e o marido um economista obcecado pela profissão, dava-lhe, por isso, grande liberdade para o exercício da sua vida profissional. Não era infeliz mas a relação era morna e estava longe daquilo com que sonhara.
Disto tudo falaram concluindo estarem ambos em condições propícias a que alguém, um dia, fizesse uma fractura em qualquer das uniões.
A reunião acabara a uma sexta-feira e Alda tinha decidido voar de Bruxelas para Paris no dia seguinte. Xavier que trouxera carro e vivia na capital, desafiou-a fazer com ele a viagem de volta. Alda aceitou. A meio do percurso resolveram parar para comer, num pequeno hotel de charme.
Nem um nem outro sabem explicar o que os levou à loucura de lá ficarem. Mas fizeram-no conscientemente. E foi muitíssimo prazeirosa a decisão.
Retornados a Paris, Xavier levou Alda ao aeroporto. Pouco falaram. Mas por uns minutos não se largaram abraçados um ao outro.
Hoje Alda, passados cinco anos sobre este acontecimento, retorna a Bruxelas para outra reunião. Pergunta a si própria se Xavier estará lá e que reacção terá. Estava, de facto.
Voltaram de novo juntos para Paris. Pararam no mesmo hotel e de novo resolveram lá ficar. Mais uma vez com muito gosto. De novo foi no aeroporto que se despediram. E, longamente se abraçaram. Há pequenas felicidades assim na vida de todos nós!

Helena

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