
Finalmente eu, um híbrido social, como tantos que pululam entre nós, discorria sobre a sua plural existência. No Alentejo onde passava de sexta a Domingo era o Senhor Engenheiro. Vivia bem porque a Cristina, a mulher legítima, era herdeira de um abastado património. Em Lisboa era o Senhor Santos, com uma pequena casa na Almirante Reis que lhe ficara de uma avó com quem sempre vivera.
E, de vez em quando, no Porto, era o Jorginho, quando se entregava, uma vez no mês, nos braços da Maria Eugénia, que o considerava caixeiro viajante e o dava publicamente como marido.
Pois bem, esta mordomia de personagens ia acabar. Quer Cristina, quer Eugénia queriam vir para Lisboa viver com ele, que não sabia como descalçar esta bota. Tanto mais que, na pouca vizinhança conhecida, todos o tinham como viúvo.
Era nisto que Jorge pensava de há uns dias para cá. Sem conseguir encontrar uma solução, levantou-se e caminhou um pouco. Tinha que contar a verdade a uma delas. Não havia qualquer outra solução. Mas não tinha coragem para eleger a qual delas se iria confessar.
De repente, vindo não se sabe donde, um silvo de travagem, um empurrão brutal, gritos e um carro a colhê-lo na passadeira.
Ainda se lembra da gente à sua volta, da sirene da ambulância e de pensar... que a Cristina e a Eugénia se estavam a rir imenso dele...
Helena
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