Mas esse sexto sentido tão feminino, um dia deu-lhe sinal. Alertou-a. Não que fossem coisas significativas. Apenas pequenas mentiras. Mas que se repetiam, sem a mínima necessidade. Foi essa gratuita repetição que começou a perturbar Joana. Ela, que embora soubesse que Manuel não era nenhum santo, estava longe de acreditar que ela a pudesse, alguma vez, pôr em causa. Mas foi justamente isso que aconteceu. E um dia Manuel foi-se embora. Cansado dela ou apaixonado por Cecília. Nunca saberia.
O mundo seguro de Joana desabou. O divórcio foi terrível. E ela ficou com o sabor amargo de uma vida que se desfaz aos cinquenta anos.
Fez análise. E foi através dela que percebeu que precisava de se "vingar". Estranho, num processo analítico. Mas verdadeiro. Joana precisava de voltar a tê-lo nos seus braços. Mesmo que pagasse muito caro por isso. Estava mesmo disposta a pôr-lhe no bolso um envelope com vinte euros e um cartão a dizer "preço justo". Assim, as contas ficariam saldadas. As lágrimas, as dores, as ânsias e as angústias seriam liquidadas. Por uns humilhantes vinte euros...
Mas a vida prega partidas. Cinco anos passaram e o encontro deu-se no Porto. Tão inesperado quanto explosivo. Porque era de amor e de vingança que se tratava.
O retorno foi silencioso. E à despedida Joana não fez o que tinha pensado. Resolveu esperar. Manuel voltou. Várias vezes. Agora, tornava à casa que, antes, fora dele também.
Foram sempre bons os encontros. Talvez porque Joana sabia que, um dia, a mulher que lho roubara haveria de saber que ele tornara. E soube, de facto...
Além do mais, cada vez que estavam juntos, além do prazer que tinham, era um prazer que a "outra" perdia!
Quando Joana sentiu que o tempo de expiação terminara, acabou. Tão inesperadamente como havia começado. Mas, finalmente, curada e de contas acertadas. Haverá algo mais prazenteiro do que servir aos outros o prato que nos serviram?!
Helena
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