quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A dívida

Era um petiz desengonçado, com dificuldade em coordenar os movimentos. Nem bonito nem o oposto. Antes, uma cara que passava despercebida. Virou, sem surpresas, o patinho feio da família e também o dos colegas, que mostravam pouca paciência para as suas inabilidades. Foi, assim, crescendo um pouco à margem da gente da sua idade. Francisco sofria, mas não mostrava!
Ao entrar na juventude tuberculizou. O que o afastou ainda mais do meio familiar, visto que teve de ser internado num sanatório. Onde, por uma macabra sorte, a sua vida mudou por completo.
Foi lá que encontrou Teresa, atacada do mesmo mal. Foi a sua primeira amiga e seria, depois, o seu primeiro grande amor. Tudo na vida de Francisco mudou. Interessou-se pelos estudos, lutou com todas as suas forças contra o mal que o invadia, deixou de se sentir solitário e sentiu-se, de facto, entre os seus. Percebia, finalmente, o que era ter uma família.
Decorrida meia década, foi dado como curado. Podia, finalmente, encarar a sua entrada na Universidade.
Ao invés, Teresa piorava. Tanto que ele retardou, quanto lhe foi possível, a sua saída da casa de saúde. Seria na última noite que passou no sanatório que se deu o desenlace. Teresa morreria nos seus braços.
Cheio de força, contrariando o que ele próprio sempre pensara que aconteceria, não chorou. E, com as mãos geladas da mulher amada entre as suas, prometeu-se viver pelos dois.
Cumpriu. Vinte anos decorridos sobre esta data, doutorava-se em medicina, com uma tese inovadora sobre a tuberculose. No princípio dessa tese podia ler-se, "Uma pequena homenagem à Teresa, a melhor Mulher que eu conheci"!

Helena

1 comentário:

  1. achei lindo .
    tinha que comentar , mas acho que sem palavras é o melhor comentário

    ResponderEliminar