quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O erro


Miguel tinha o péssimo hábito de considerar que só havia duas espécies de mulheres. Mais especificamente, aquelas com quem se casa, e aquelas com quem se dorme. O que é não só muito redutor, como esquece algo essencial, que é o facto que decorre de, por norma, também se dormir com quem se casa...
Machista como era, "sérias" para ele, eram a mãe e as irmãs. Apesar de correrem algumas "estórias" a respeito de uma delas. E, fanfarrão, dizia que havia de casar com alguém que fosse um modelo de virtudes.
Curiosamente Mariana, mulher pragmática, pensava o mesmo dos homens. Para ela havia aqueles que punham a aliança no nosso dedo, e aqueles com quem se brincava uma ou vária noites. E praticava o que pensava. Ou seja, brincou muito durante a sua juventude.
Mas como era hábil soube sempre fazer as suas romarias em moldes muito discretos e como tinha a ajuda-la um aspecto angelical, gozava de grande respeito junto dos amigos.
Nada talhava, por isso, estas duas almas para um encontro sério. Mas, na vida o homem põe e Deus dispõe. E por um mero acidente de percurso, a vida pregou-lhes uma partida.
Certa tarde, quando justamente Mariana saía de um hotel onde havia passado uma tarde de entretenimento, chocou de frente com o carro de Miguel. O embate foi tão violento que a condutora desmaiou.
Quando acordou estava num hospital rodeada da família, de um agente da polícia e do seu agressor, que também ali fora tratado de uns pequenos ferimentos.
Mariana, ao contrário, sofrera graves contusões e em estado de pouca lucidez, o que impediu a polícia de tomar as suas declarações.
Passaram-se semanas de internamento em que Miguel não deixou de estar diariamente presente. Talvez por isso a tenha classificado, no seu íntimo, como pertencendo à categoria das casáveis.
Os meses passaram. A vítima não teve sequelas, as companhias de seguros acabaram por se entender quanto às indemnizações e Mariana retomou a sua vida. Miguel é que não. Apaixonara-se.
Tanto, que, confiante na sua sorte, propôs-se a Mariana. Esta, a sorrir, disse-lhe que não. E explicou-lhe que ele era o protótipo dos homens com quem se não deve casar...

Helena

1 comentário:

  1. Helena,

    É curioso como as suas short stories parecem ter como pano de fundo o "cá se fazem, cá se pagam". O que é reconfortante para a alma , num tempo em que o espelho só parece reflectir vaidade.

    ResponderEliminar