terça-feira, 22 de junho de 2010

A viúva



Todos nós, mais tarde ou mais cedo, nos apaixonámos. Ou quase todos nós.
Lembro-me de uma colega de liceu, que depois o foi na Universidade e no trabalho. Nunca namorou. Canalizou todas as suas emoções numa carreira brilhante. E quando lhe perguntávamos se não tinha pena, ela respondia que sim, que tinha.
Os anos passaram. A partir de certa altura a nossa vida seguiu rumos diferentes, e os encontros tornaram-se mais escassos.
Há uns dois meses reencontrámo-nos no velório de um amigo comum, que a vida ceifara mais cedo do que devia. Vi-a muito chorosa e sem arredar pé do caixão. Perguntei-lhe como estava.
A sua resposta, para espanto meu, foi: "viuva". Embaraçada com a inesperada revelação indaguei quando casara. A resposta veio imediata: há quinze dias.
O meu rosto deve ter sido o espelho da minha surpresa. Talvez por isso, apontou para o caixão, exclamou: com ele.
Fiquei tão atordoada que só quando me vi fora da Igreja é que realizei o insólito da situação e do diálogo que a acompanhou...

Helena

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