Estávamos lá todos. Todos os vivos, claro. Que, alguns a vida ceifara cedo!
Não sabíamos ao que íamos. O convite apenas dizia "quero-vos cá pelas 18 horas. Arranjadinhos. Bem cheirosos. Para um acontecimento importante. Da minha vida. E, espero, da vossa também". Foi assim que uma vintena de amigos se encontrou numa velha quinta nos arredores de Lisboa.
A sala tinha lareira. Mas o tempo estava quente. Por isso, as chamas foram substituídas por uma cesta cheia de flores. Do campo. Que cheiravam a orvalho.
Quando entrei já havia uns quantos à espera. Que punham a hipótese de um acto de loucura da Mariana. Que a tivesse levado à decisão de se casar.
Perguntei:"com quem?". Viraram-se para mim como se esperassem que aventasse também a resposta.
Com qualquer pessoa, pensei. Mas não disse nada, nesta época de mais com mais ou menos com menos. Insistiram. Respondi, "com qualquer de nós". Silêncio imediato. Pergunta e resposta recusadas.
A certa altura entrou um padre nosso amigo. Em coro, perguntámos "quem é o noivo?". Ele sorriu e apontou para o teto. Ninguém percebeu. E quando queriamos esclarecimentos, ele tinha-se escapulido.
Sete horas. Estavamos todos. À sétima badalada a Mariana apareceu. Vestida de branco. Ia batizar-se. Aos 57 anos!
Helena
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