quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

DESENCONTROS

Marta teve durante toda a sua adolescência o trauma de ser filha de pais divorciados. Naquela época essa circunstância limitou-lhe os convívios e até as amizades. Era um tempo em que os casamentos se supunham para toda a vida.

Talvez fosse essa circunstância que a levasse a olhar a carreira como um substituto da família até à sua entrada na juventude e na Universidade. Aí, no meio desses homens e mulheres que batalhavam em pé de igualdade perante as mesmas dificuldades, ela compreendeu que nada a diferenciava dos restantes colegas.
Mas subsistia uma névoa que se manifestava no seu desejo de constituir uma família sólida que nada pudesse, jamais, abalar. Foi assim que veio o primeiro e único namoro com um jovem que havia de se transformar no seu marido.
Marta foi mãe de um casal e a sua vida passou a girar entre o emprego e os filhos. O seu parceiro ia dando sinais de que se sentia preterido, mas ela não lhes ligou grande importância. Até ao dia em que se deu conta de que a vida deles como casal havia mudado radicalmente. Nesse momento tentou inverter a marcha dos acontecimentos, mas era tarde. Miguel já havia preenchido o espaço que Marta havia deixado livre.
Seguiu-se o inevitável divórcio que a deixou com a responsabilidade maior de educar dois filhos e a sensação trágica de que perdera, por omissão, o homem da sua vida.
Os anos foram decorrendo e Marta estava decidida a ser uma pessoa diferente se voltasse a encontrar, de novo, alguém que valesse a pena. Esse dia chegou e com ele todo um processo de entrega da sua vida a esse novo amor.
Todavia a vida não se escreve por episódios e, ao fim de algum tempo, Marta percebeu que não era essa personagem que ela  dedicadamente encarnava, que o seu homem precisava. Isto era tão verdadeiro que se os seus dois maridos se juntassem para falar dela, nenhum a reconheceria.
Novo divórcio e uma constatação dolorosa. Quem o seu segundo marido queria, de facto, era a Marta do primeiro. E este teria sido, eventualmente, feliz com a Marta do segundo. A vida também é feita destes desencontros...


Helena 

2 comentários:

  1. Tivesse a Marta a capacidade de (se) pensar. E para isso alguém que tivesse ensinado como, e talvez pudesse ter sido possível Saber pensar-se tb com o outro.
    (curiosamente contei há poucos dias uma história de uma Marta que não sabia amar)

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