terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tango

É uma pessoa como deve ser, costumavam dizer dele. Dele, Artur. E tinham, de facto razão. Toda a sua vida fora enquadrada por espartilhos de boa compostura, Um bom filho, um bom estudante, um bom profissional, um bom marido e um bom pai. Quase se esquecera que havia gente que não era assim. Que só era competente numa ou duas áreas. E às vezes até nem isso...
Mas um dia apareceu-lhe uma mulher que todos diziam ser "assanhada". Nem ele bem sabia o que isso queria dizer até a ter conhecido e ter ficado ali, especado a olhar para ela. Especado é o termo porque não conseguiu sair do local em que se encontrava nem se lhe ouviu o vago "prazer em conhece-la" que tentou pronunciar. 
Ao invés, ela nem quase olhou para ele, seduzida que ficou por um argentino que, destacando-se no meio de um salão cheio de gente, pegou nela e de modo inesperado, a levou pelos ares ao som do tango que se fazia ouvir. De tal modo foi surpreendente o gesto, que todos pararam de conversar, lhes deram espaço e ficaram a ver o par deslizar.
Artur teve um impulso louco e, fazendo sinal à orquestra para continuarem a tocar, com um movimento brusco, roubou Penelope dos braços do seu par, tomou-a nos seus e agarrando-a como se fosse sua, levou-ao ar e, competiu com ganho, no tango que se seguiu, corpos colados, pernas em hélice, respiração ofegante, enfim o que se costuma imaginar do "dois em um"... 
Nem ele sabe explicar o que lhe aconteceu. No último acorde, inspiração de um e expiração de outro confundidas, lábios quase unidos, Penelope pára, dá-lhe um estalo e afasta-se a passos largos - deixando-o sozinho no meio da sala -, para se dirigir a Enrique, a quem beijou cheia de sensualidade e olhando Artur com altivez, saíu. Este continuava no mesmo sítio, hirto, olhar estranho, sem se mover.
A musica voltou a fazer-se ouvir, as pessoas voltaram a conversar. Só Artur não conseguia sair de onde estava. Até que a sua mulher, Cândida, pegou nele e começou a dançar. Mas aí, já ninguém se voltou...

Helena

4 comentários:

  1. Cara Felipa
    O que já me ri com a sua pergunta. Eu estava a escrever dois textos. E o Justino veio parar a este por engano. Já está corrigido.
    Obrigada!

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  2. Olhe que o Justino continua cá... é teimoso :)

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  3. Nem mais. Mudei e não gravei... Decididamente este Justino não me queria abandonar!

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