domingo, 13 de janeiro de 2013

Elas não sabiam...

Beatriz, a única das irmãs que ficara solteira - para tia como na família sussurravam -, sonhava o que as restantes, alguma vez, seriam capazes de fazer. As quatro tiveram vidas completamente diferentes. 
Antónia era uma viúva convenientemente chorosa de um marido que jamais amara. Natália era casada e adorava o companheiro que a via mais como amiga do que como mulher. Francisca era divorciada, a primeira naquele clã, e ansiava por encontrar substituto para o lugar deixado vago no seu leito e na sua posição na sociedade.
Todas tinham tido uma história pessoal antes de atingirem o estatuto em que se encontravam. Só de Beatriz jamais se conhecera qualquer rumor e era, até, frequente referirem-se ao facto com comentários mais ou menos jocosos. Aos quais ela sorria, e impassível respondia que "só Frei Bento sabia o que iria no convento".
Não, elas não sabiam. Nem precisavam de saber. Mas os seus sonhos eram carregados de carícias, de beijos, de sexo. Que, durante um ano, ela vivera intensamente. Tanto e de forma tão viva que chegava a acordar com o corpo suado, a respiração ofegante, o gemido arrastado de quem travara dura batalha corporal.
Não, elas não sabiam que o desinteressado marido de Natália, sorvera cada parcela do seu corpo, partilhara com ela os gostos mais extravagantes, segredara-lhe o que jamais a irmã ouvira.
Nenhuma delas alguma vez adivinhara no silencioso marido de Antónia, o fogo consumido pela paixão que votara à cunhada e que havia de o manter feliz até ao dia em que um carro o levara para um mundo melhor.
Porém, havia de ser com Manuel, ex marido de Francisca, que Beatriz viveria a sua derradeira caminhada para o inferno dos sentidos. Era ainda com este que sonhava os seus intensos sonhos eróticos. E com ele que, continuava a encontrar-se, para de cada vez se prometerem, que essa seria a última.
De facto, nenhuma das irmãs conhecera o marido que a vida lhes havia arranjado. Apenas Beatriz, aquela de quem tanto troçavam, os havia verdadeiramente conhecido e, diga-se, bem apreciado!

Helena

7 comentários:

  1. Tendo eu três irmãs esta história faz-me um bocado de confusão, sempre vi os meus cunhados como irmãos, só em pensar nisso já me enjoa... mas isto sou eu... que sou casada também :)

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  2. Mas, cara Felipa, as pessoas não são todas iguais. Nem à Beatriz. Nem a mim, nem a si.
    As minhas histórias são ficcionadas. Mas têm sempre a ver com alguma realidade conhecida ou dada a conhecer. Foi o caso desta, que se passou, há muitos anos, numa terra perto da fronteira com Espanha.

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    1. Helena sou uma grande fã será que podia dar uma vista de olhos pelos meus poemas.
      Os seus textos são simplesmente fantásticos!!!

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  3. Claro que sim. Mande-me o seu mail - que não publicarei - e dir-lhe-ei o que deve fazer.

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  4. Pequena história de ficção, que prende o leitor. Mas é assim, as situações acontecem... e só se conhecem as que são divulgadas. Mas, felizmente, muitas são as pessoas que jamais admitiriam isso com seus Familiares. Meus cumprimentos para a Senhora.

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  5. andei por aqui a ler.
    mas, este texto é demais.
    beijo

    :)

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