A realidade, em muitas ocasiões, ultrapassa a própria ficção. Todos sabemos isso. Mas ficamos sempre surpreendidos quando se trata de nós. Era este o pensamento de Sofia quando chegou ao hotel. De facto, acabara de viver uma história que ilustrava bem o adágio.
A nossa heroína, antiga jornalista e hoje directora de uma empresa de comunicação, tinha decidido tomar uns dias de férias. A verdade não era exactamente esta, uma vez que a realidade é que ela fora convidada por um cliente a ir até Berlim, após ter ganho o projecto para o qual a sua empresa fora contactada.
Ambos divorciados, o convívio profissional havia-os aproximado. Sofia, que não pretendia relações passageiras, considerou que aquela viagem lhes permitiria conhecerem-se um pouco melhor e por isso resolveu aceitar o mimo. Mas não quis, na altura, pôr a família ao corrente da situação. Por isso, as férias surgiram como uma boa desculpa perante um ano de muito trabalho.
A viagem correu de modo excelente e, no último dia resolveram visitar alguns jardins mais emblemáticos da cidade. Num deles uma árvore centenária dominava o parque. Naturalmente o casal aproximou-se para a observar de perto, surpreendido pelas raizes enormes e salientes. Numa delas algo brilhava.. E um rapaz tentava, com um graveto, isolar o objecto brilhante. Baixaram-se para ver o que era. Nada mais, nada menos, do que uma aliança larga dourada que parecia enrolar-se num pequeno abeto que crescia à volta.
O adolescente pegou nela. Mas, ao vê-los, deve ter julgado que eles a teriam perdido e a haviam encontrado. Rápido, fez o gesto de a devolver e desapareceu a correr. Sofia e Rui não puderam deixar de rir pelo embaraço do garoto. Nenhuma data ou inscrição. Nada.
Hesitaram entre deixá-la no mesmo lugar ou guardarem-na. Decidiram-se por ficarem com ela. Voltaram a Portugal. Mandaram gravar a data e desde há dois anos que Sofia nunca mais a tirou do dedo.
Muitas histórias podem estar por detrás deste anel. Divórcio, arrufo, ou pura perda. Nenhuma será feliz. Excepto para a nova dona que tem por ela uma imensa ternura!
Helena
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