segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O vaso de crisântemos



Joana vivia num meio rural do interior do seu país. Corria quilómetros para aprender a ler, objectivo que já era considerado pelos seus pais como sendo mais do que a vida lhes tinha a eles permitido.
A sua curta existência tinha sido passada quase sem assentar em lugar fixo, porque o seu pai ia para onde houvesse trabalho de campo. Assim, com dez anitos já deveria ter conhecido mais de uma dúzia de terras. E era quase sempre quando começava a fazer amigos que tinha de se mudar. Foi, portanto, uma criança isolada que preferia os objectos às pessoas. Porque estes, sendo parcos, eram tudo o que possuía de seu.
Estava naquela terriola há seis meses e todas as noites olhava para o vaso de crisântemos que havia encontrado quando ali chegou, como se ele fosse a ampulheta do tempo que havia passado e, simultaneamente, daquele que lhe faltaria para dali sair. A planta, cuidada com todo o carinho, estava viçosa e era, de facto, a sua companhia. Todos os dias falava com ela os segredos que as outras crianças falavam com as amigas.
Um dia, ao chegar a casa, vinda da escola, o vaso havia desaparecido. Joana correu as redondezas para o tentar encontrar. Tudo debalde. Nunca soube o que lhe tinha acontecido. Apenas sabia que estava agora muito mais sozinha. A partir daí os dias corriam tristes e ninguém parecia conseguir compreender o que se passava com ela.
Os anos correram e os tempos melhoraram. Joana fez-se mulher. Deixou de rolar de terra em terra. Os pais acabaram, finalmente, por se poderem fixar ali. 
No seu quarto, junto à janela, está um vazo com crisântemos. Foi a primeira compra que fez, quando arranjou trabalho, apesar de, nessa altura, já contar com algumas amigas...

HSC

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Helena!
    Faz três anos que já não escrevia! Tenho um livro editado (2009), e agora depois de períodos menos felizes, que sugaram a minha presença à família, voltei! Leio muito o que a Helena escreve, oiço muito o que a Helena diz, e quanto mais a leio, quanto mais a oiço mais quero ler, mais quero ouvir! A Helena faz lembrar-me a minha mãe, na essência que transmite! Também ela quebrou barreiras da sua época, (nascida em 1949) estudando e tornando-se uma Analista Química de excelência. Comecei a admirar a Helena pelo entusiasmo dela sobre si. e pela empatia. Já li, "E nada o vento levou"; li "O amor é dificil" ; li "mulheres que amaram demais"; li "Erros meus, má fortuna, amor sempre?" Etc... Helena, não vale, eu leio os seus livros em uma semana :)... Gosto muito de si! e quero dizer-lhe e está dito! Obrigada e continue, continue porque nos meus 29 anos, ainda a quero ouvir e ler muito.

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  3. Hoje, dia 14 de Outubro 2015, 11.00 horas, tive um gosto. Encontrei a HSC, pessoa que muito admiro e que gostaria de ver e ouvir mais vezes através da TV. Gosto do seu modo de escrever e de falar. Apresento-lhe os meus cumprimentos e os meus parabéns pela pessoa que é !

    maq / Maria Adelaide Quintas / adelaidequintas@yahoo.com

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  4. Maria Adelaide
    Bem haja pelas suas palavras. Mas se gosta de me ler vá ao meu Fio de prumo onde escrevo todos os dias, em
    hsacaduracabral.blogspot.com

    Abraço

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