terça-feira, 3 de julho de 2012

Filosofia de fim de semana


Às vezes Joana tem dúvidas. Do que foi a sua vida, do que de si entregou aos outros, do que os outros lhe entregaram a si. Olha para trás e, em certos dias tudo lhe parece certo. Noutros, menos segura, tem ideia de que a sua existência foi um puro erro de casting.
Em pequena era tímida. Em jovem afirmou-se. Em adulta foi sedutora. E agora, nem nova nem velha, não sabe quem é.
É a vida, dizem-lhe. Mas é a minha vida, responde. Sou eu que preciso de saber se é verdade quem penso que fui e que preciso de saber quem sou, na esperança de ainda poder perceber quem serei. Porque neste momento é só isso que importa a todos: saber quem se será.
Melhor ainda, saber se poderemos ser quem desejaríamos. Mas nem isso com precisão Joana sabe.
Lembra prazeres e alegrias, lágrimas e desgostos. Mas para que é que isso lhe serve, na definição de quem virá a ser? De nada. Nem pistas dá, porque, afinal, ela até já foi bastantes pessoas. 
E será que importa assim tanto saber quem poderemos ser? Importa sim, diz-lhe o seu lado moralista. Importa nada, diz-lhe o outro, o eu rebelde.
Joana só tem estas angústias ao fim de semana. Nos dias úteis não tem tempo. Sabe sempre quem é e quem será. Decididamente, o mais certo seria acabar com o sábado e o domingo...

Helena

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