terça-feira, 1 de março de 2011

O Silêncio é de ouro...

Sofia e Marta eram amigas desde a escola primária. Dificilmente se podiam imaginar duas pessoas tão diferentes e que tivessem gostos tão semelhantes em matéria cultural. Apreciavam os mesmos compositores, pintores, autores e cineastas e, nem sempre, pelos mesmos motivos. Mas era justamente isso que dava à relação delas uma enorme vivacidade.
Ambas eram bem casadas e, para facilitar o seu relacionamento também os respectivos maridos eram igualmente amigos. Constituíam, simultaneamente, motivo de inveja e de admiração por parte dos restantes companheiros.
Certa tarde, Sofia que se sentara numa esplanada a apanhar um pouco se sol, junto ao rio viu, Alexandre, o marido da amiga, a passear de mãos dadas com uma mulher, ao longo do passeio que bordeava as cadeiras. O gesto imediato foi levantar-se e ir ter com os amigos para se meter com eles. Mas, mal deu uns passos, percebeu que a mulher não era Marta.
Recuou de imediato e o que lhe apeteceu fazer foi ir-se dali embora. Mas o casal, de costas para ela, acabou por se sentar na esplanada ao lado. Sofia pôs os óculos, mudou de posição e ficou a observá-los. Não era difícil perceber que tipo de relação estava ali. A jovem, porque era de alguém que não teria mais de vinte anos, que se tratava, manifestava de forma bem exuberante o que sentia pelo seu acompanhante.
Finalmente Sofia resolveu ir-se embora porque começava a estar incomodada com o que via. Apenas hesitou se deveria ou não mostrar-se, de modo a dar a conhecer a Alexandre, que vira tudo. Tomou a decisão de lhe falar na esperança de que ele se viesse a sentir constrangido.
Pura ficção da sua parte. Ao vê-la, Alexandre não só a cumprimentou como a convidou a sentar-se à sua mesa e lhe apresentou Isabel. E, surpresa das surpresas, nem sequer se coibiu, nos escassos instantes que ali esteve, de manter as manifestações de afecto que ela já vira antes. Incomodada, mas sem o mostrar, Sofia despediu-se.
Já no carro pensava no que iria fazer. De certo, contar ao marido. Mas, depois, o que fazer? Esquecer? Não se intrometer? Não contar? Estava muito angustiada e até chocada. Era algo de impensável naquele casal!
Quando o marido chegou contou-lhe o sucedido. Ele não pareceu ficar muito surpreendido. E quando Sofia lhe perguntou o que haviam de fazer, respondeu-lhe “nada”.
- Como nada?!
- Exactamente o que ouviste, nada.
- Mas eu sou amiga da Marta…
- Por isso mesmo. O assunto é deles e respeita a sua privacidade. Se o contares, não resolves nada e vais perder dois amigos. É isso que queres?!
Sofia ficou a olhar para o marido, sem resposta. Mas acabou por seguir o seu conselho. É que se lembrou do velho ditado popular que diz que “entre marido e mulher, não metas, nunca, a colher”!

Helena

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