Foi neste ambiente que Aurora viu o seu marido abandonar o lar. A razão por que o fez está, ainda hoje, longe de ser clara. Outra mulher? Cansaço? Desinteresse? Ânsia de liberdade? Ninguém sabe. Só o Zé que, aliás, nunca o confessou.
O casal tinha duas filhas já maiores. Uma casada a outra solteira, acabadinha de sair da Universidade. Por isso o pai já não necessitava de autorização materna para estar com os rebentos.
Mas Aurora não fora educada para ser uma mulher abandonada. Assim, quando o Zé lhe pediu a separação judicial, não lha deu. Ao menos continuava casada, pensava Aurora.
Mas havia que contar com as más línguas e os olhares da vizinhança, que não deixariam de reparar na ausência do Zé por aquelas paragens. Portanto, era urgente encontrar uma solução.
Um dia, saíu de casa e voltou com duas mudas completas de roupa interior masculina. A qual, a partir de então, passou a ser molhada todos os dias e alternadamente estendida nos varais da casa.
Todos os dias até à revolução do Ministro Salgado Zenha, que acabou por permitir ao Zé que se separasse da Aurora, mesmo contra vontade dela.
Finalmente a roupa deixou de estar estendida no varal. Mas Aurora continua, ainda hoje, com noventa anos, a usar aliança no dedo anelar esquerdo e a assinar o nome do marido.
Era assim antigamente...
Helena
(...) Uma narrativa algo trágica, mas encantadora.
ResponderEliminarA Aurora, lá do alto da sua estatura etária,também já tem idade para fazer o que lhe apetece; até porque, sempre soube o que quis.
E... admitamos: era uma grande estratega!
Era assim antigamente...
e respeito muito!
Cumpts.
César Ramos