quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Outros tempos

Cresceram juntos, estudaram juntos, divertiram-se juntos. Casaram-se um com o outro. Diogo ria-se com a Rita, sua mulher, quando afirmava que também "... Casámos juntos".

Pertenceram à geração de Maio de 68 e sempre foram considerados de "avant garde".Gostavam do cinema francês da época, eram católicos progressistas e diziam-se personalistas, falando de Mounier como se de um amigo próximo se tratasse. Consideravam-se oposicionistas ao regime da altura e faziam parte dos chamados "grupos de casais", que eram a feição mais moderna da Igreja a que pertenciam.

Enfim, tinham tudo o que na época se entendia serem os ingredientes necessários para constituir a família exemplar. Tiveram três filhos, duas raparigas e um rapaz, que, pese embora terem sido educados com toda a liberalidade, haveriam de contestar, por sua vez, as opções paternas da época.

Teriam passado dez anos de casamento quando Diogo conheceu Marta, uns anitos mais nova do que Rita e Diogo. Era uma mulher vistosa, inteligente e culta que fora colocada no mesmo serviço hospitalar de Diogo. A amizade que começara com a aprendizagem do internato fortaleceu-se a ponto de terem tomado a decisão de constituírem uma sociedade para explorar um consultório. Tudo isto Rita acompanhava com o entusiasmo ingénuo de quem só pensa em consolidar a carreira do marido.

Mas na vida nem tudo corre como planeamos. Mesmo quando não queremos magoar ninguém. E aquela intensa vivência aproximou-os mais do que eles próprios esperavam ou quereriam. Mas o facto é que estavam apaixonados, sem que Diogo tivesse deixado de gostar de Rita.

Naquela tarde de Domingo em que a saída dos filhos os deixara sós, Diogo debatia-se no seu íntimo, sobre o que devia fazer relativamente ao problema que estava a viver. Ou seja e de modo muito cru, interrogava-se a si próprio sobre o que deveria fazer, sobre se deveria contar ou não, o drama que estava a viver. Porque se era isso que lhe apetecia – precisava da ajuda de Rita para tomar uma decisão -, também temia qual pudesse ser a sua reacção. E ele não queria, de facto, perdê-la.

Foi a mulher quem o interrompeu:

- Estás com um ar preocupado, Diogo. O que é que se passa?

- Não se passa nada Rita. Estou apenas cansado.

- Cansado de quê? Agora até tens menos trabalho. E até acabaste de fazer férias.

- Mas que queres? Ando cansado.

- Acredito. Mas não é do trabalho profissional, meu querido. É, sim da trapalhada da tua vida…

- Como assim? Que é que queres dizer com isso?

- Eu, nada. Tu é que devias perceber que ter duas mulheres, é um cansaço!

Helena

1 comentário:

  1. Muito honesto da parte dele,acho que deveria ser sincero e honesto e dizer eu gosto de ti mas já não te amo,isso sim é honestidade é por isso que eu deixei de acreditar no amor e nos homens para mim mais vale só que mal acompanhada.

    ResponderEliminar