terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O tesouro


A família Pimentel era oriunda do Alentejo e possuía características bem marcadas. Todos muito chegados constituíam um verdadeiro clã e tinham gala nisso. A casa estava sempre cheia de filhos, sobrinhos, primos e netos. Não havia refeição em que, à mesa, se não sentassem perto de vinte pessoas.
Depois da escola, era em casa da avó Joana e do avô José que os muitos netos se juntavam, atraídos pelos gostosos lanches que ali se faziam para eles.
De facto, nos princípios do século passado, era assim. As famílias eram numerosas e isso não constituía a surpresa de hoje em dia.
A avó era a grande matriarca da família e as grandes ou pequenas decisões de qualquer membro, não eram tomadas sem a sua prévia audição e concordância. Joana geria a vida de todos e ninguém parecia surpreender-se com o facto ou discutir, sequer, as suas opiniões.
Como detalhe, trazia sempre pendurada ao pescoço, num fio de ouro, uma minúscula chave que, dizia às crianças, seria da porta de uma caixa de prata onde ela guardava o seu tesouro. O qual viria a pertencer ao neto ou neta que melhor tratasse dela.
As crianças tornaram-se jovens adultos. Que encaravam a dita chave como o caminho para as libras de ouro que então se dizia ser a sua grande fortuna. E, claro, cada um deles pensava para consigo que seria o herdeiro de tão áureo património.
O tempo passou e uma noite Joana morreu. O desgosto foi sentido por todos. Mas a vida continuava e era preciso fazer partilhas. Ninguém ignorava que as disposições testamentárias se encontravam na mão do Dr. Trindade, o advogado e notário da região. Avisado do falecimento, reuniu os herdeiros e deu-lhes conta do que ficava para quem. A caixa seria entregue ao Nuno, o neto preferido e que era justamente o que menos se interessava por questões materiais.
Acabada a sessão a caixa foi aberta em frente de todos. Para surpresa geral, ela só continha as cartas de amor de Joana e José. O beneficiado foi alvo de uma galhofa geral. Mas não se importou.
Já no silêncio do seu quarto deliciou-se a ler aquelas epístolas. Para sua admiração, dentro de uma delas vinha um pequeno papel que lhe era dirigido e em letras vermelhas um código, com indicação de contactar o Dr Trindade. Este estava encarregado de lhe dar quando ele o pedisse, ou, ao fim de um ano, se tal não acontecesse, uma carta lacrada que o encaminharia para um cofre, cujo código de acesso era o que ele possuía.
O conteúdo do mesmo era variado. Porque, para além de libras, havia títulos de propriedades que a família desconhecia!

Helena

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