segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O estado civil...

Odete sabia o que era ser solteira. E também o que fora ser casada. Agora estava a aprender como era ser divorciada... e ainda como era ser viúva.
Nenhum daqueles estados civis por que já passara a tornaram muito feliz. Do primeiro recordava o mau feitio do pai e o medo da mãe. Do segundo as lembranças não eram igualmente muito boas. Nunca amara o marido e apenas o aceitara para fugir ao ambiente paterno. Mas o José, todo mesuras enquanto namorado, depois de casado mais se ia parecendo com o aquele que lhe dera vida. Enfim, até aos trinta anos, Odete vivera aprisionada...
Mas um dia, uma sua prima emigrante em França, veio de férias a Portugal e virara-lhe a cabeça, como a família dizia. Odete começou a perceber que nem todos viviam como ela e que se tivesse coragem podia mudar o deu destino.
Aguentou mais seis meses. Poupou tudo o que podia. E, numa bela madrugada, sem que ninguém desse por isso, abalou na carreira para o Porto. Uma vez na capital, chegar ao aeroporto foi o seu destino.
Não se perdeu nem se enganou. Mas, de facto, só no avião se sentiu segura.
A prima e trabalho esperavam-na em Paris. Todos a procuraram e quando finalmente a encontraram, ela só quis o divórcio. A distância e o consulado ajudaram. Um ano após a saída da aldeia, Odete era uma mulher divorciada. Livre. Até para se casar de novo... Pensava ela, porque a sentença não transitara ainda em julgado, e ela ignorava o que isso significava.
Poucos dias depois de obter a liberdade, chegaram-lhe notícias do país. O marido que já deixara de o ser, morrera num acidente. Ou seja, sem o saber, Odete transformara-se, subitamente, numa pessoa cujo estado civil era confuso. Com efeito, para efeitos legais não estava ainda divorciada, mas também de viúva não podia ser chamada!

Helena


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