segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Encantos virtuais


A internet era a sua paixão. E, diga-se de passagem, a sua única companhia. Luisa nem sabia explicar como tudo tinha começado. De facto, não era muito dotada para as tecnologias mas as amigas começaram a estimulá-la, a dizer-lhe que podia fazer amigos na rede, que os perigos eram só para quem se arriscava.
Primeiro foi o portátil. Habituou-se de tal modo a ele, que o levava para todo o lado. Depois, foram as redes sociais. Claro que participava de todas as que conhecia ou ia conhecendo. A seguir foi a blogosfera e todos os importantes pensadores do país que se exprimiam daquele modo. Luisa começava até a ser conhecida num restrito número de amigos virtuais. É sempre assim, diziam-lhe todos.
Mas um dia Luisa arriscou-se. E foi espreitar alguns amigos dos seus virtuais amigos. Começou justamente assim o seu conhecimento com Osvaldo. Ele até já podia ter fãs. Começaram na rede e passaram ao correio electrónico. Deste, passaram ao telefone que para ele era gratuito. Coisas de pacotes promocionais, dizia. Eram conversas em tempo real. Ele engenheiro ela educadora infantil.
Do telefone ao encontro demorou algum tempo. Talvez quatro meses, que fizeram crescer nela uma esperança. A de, finalmente, encontrar a alma gémea.
O encontro não a desiludiu. Osvaldo era tal e qual a foto que apostara na sua página. O envolvimento foi-se tornando cada vez mais íntimo e Osvaldo já se mexia na casa dela como se fosse residente. Luisa dera-lhe a chave para ele a surpreender sempre que quisesse.
Mas nas férias foi difícil compatibilizar datas. Luisa ia para Paris a 26 de Agosto e Osvaldo chegaria dois dias depois.
O dia 28 de Agosto passou e Osvaldo não chegou. Nem atendia o telefone. Até a página da rede havia sido fechada. Luisa entrou em angústia e telefonou para uma vizinha. Foi quando esta lhe deu os parabéns pela nova casa...
Quando, a 30 de Agosto, Luísa chegou a Liboa tinha, na verdade, uma nova casa. Vazia!

Helena

Sem comentários:

Enviar um comentário