domingo, 1 de julho de 2012

Vinte anos depois...


Ele insistia, por telefone, que precisava de a ver. Ela, de forma polida, ia-se esquivando, por entender que, ao fim de vinte anos de divórcio sem filhos, pouco ou nada haveria para dizer.
Elsa separara-se porque, em certa altura, se sentira a mais naquele casamento. Colocado perante a situação, Marcos não negou. Mas também não afirmou que pretendesse divorciar-se. Nada invulgar, convenhamos. Ele apenas gostava de duas mulheres. Realmente, embora de forma diversa. E se nenhuma delas levantasse a questão, ele não a levantaria.
Mas Elsa, que era inteligente, percebera. E, Amália que nunca desejara ser segunda, viu ali a chance para obter o que lhe faltava. Face à situação, o divórcio foi o caminho.
Elsa sofreu o seu maior desgosto e sentia-se culpada quando o colocava acima do que sentira quando perdera os pais. Havia, mais tarde, de obter a sua pequena vingança, quando ao fim de quatro anos daquela amargura, aceitara ser sua amante.
Hoje recorda esse período de um ano, como um dos melhores da sua vida. Acabaria por lhe pôr fim, quando percebeu que aquele homem  deixara de representar o papel de marido tão chorado. Coisas mesmo do destino.
Passaram vinte anos, que aqui ou ali, foram entrecortados por um telefonema de parabéns na data do aniversário de cada um. Nada mais.
Perante a insistência no encontro, Elsa não teve como rejeitar mais e acabou por aceitar o tal convite para jantar.
Mas vinte anos é muito tempo. Demasiado, num caso destes. Elsa não reconheceu Marcos à sua porta. Não queria acreditar que estava ali, alguém com quem vivera uma dúzia de anos.
O jantar tinha um fito. O tal abraço urgente trazia um nó na ponta. Mas Elsa não se importou, quando percebeu que afinal, aqueles vinte anos deixaram de ter qualquer valor no campo sentimental.
Ficou a amizade? Talvez. Mas ténue e sem qualquer hipótese de ser alimentada. Portanto, quase morta...

Helena 

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