domingo, 1 de julho de 2012

Amizade colorida...


Ela não sabia bem o que se tinha passado entre eles. Mas hoje, à distância de uma meia dúzia de anos, pensa que terá sido o que, agora,  podemos classificar de colorida. 
Ele um jovem a entrar nos quarenta e a atravessar um período de insatisfação familiar - acontece a todos e quando não acontece, é melhor desconfiar -, ela na ressaca de uma relação mais ou menos poética, mas como quase todas as do género, um pouco irrealista. 
Um dia encontraram-se. Ela em Lisboa ele no Algarve, com uma distância de 200 Km entre eles. O flash pareceu-lhe mútuo e imediato.
A internet tem destes súbitos amores e assim, permitiram-se, um ao outro, fazer o "transfer" das respectivas tristezas, dando-se mutuamente uma amizade com laivos de algo mais, que não fora concretizado. 
A Lúcia tê-lo-á mitificado e o Pedro terá sentido nela o colo de que, no momento, até poderia precisar. E assim caminharam vários meses pontuados de encontros felizes, mas sem envolvimento físico. Sentiam-se bem assim.
Ela, sem se dar conta, foi expandindo o que sentia por Pedro. Este, ao contrário, foi-se reequilibrando e percebendo que na vida, familiar ou profissional, todos temos altos e baixos. Resumindo, ao que agora lhe parece, ela apaixonando-se e o Pedro libertando-se e tentando ficar o bom amigo.
Quando isto aconteceu houve, inevitavelmente, num dos lados, uma revolta . Sobretudo o dela, que sentiu nada haver ganho, em troca do muito que oferecera de solidariedade, de atenção, enfim de envolvência pessoal. 
As formas de reacção individual são múltiplas. Pedro continuou a sua vida e ela sentiu a dela esmorecer, sobretudo num período em que teve muitos outros eventos nefastos. 
Lúcia tinha vontade de se vingar. Mas nem sabia bem de quê. Se daquilo que havia recebido ou se daquilo que, afinal, não recebera. 
O tempo passou e a revolta, depois de aumentar, começou a diminuir. 
Um dia, Lúcia deu-se conta de que ultrapassara a crise. É que tinha começado a dedicar-se ao que verdadeiramente lhe devia ter sempre interessado na vida: ela própria. Até para, mais tarde, poder fazer, descomprometida, a sua própria análise. 
Hoje, sim, chegara a hora, de perceber que se não deve insistir em ser amigo de quem não quer ser nosso amigo, porque quer algo mais. 
Foi uma pausa longa. Só o tempo é bom conselheiro nestas matérias. 
E se a amizade, que no passado, pareceu uni-los, tiver pés para andar, ela acabará por voltar, quando já não possa ser mais do que isso!

Helena


2 comentários:

  1. Tanto a dizer sobre este texto! :)
    Primeiro que não é fácil encontrar alguém cujo sentimento seja totalmente correspondido e que haja sintonia a 100%. Geralmente há sempre um lado que gosta mais do que o outro. Por isso é que quando existe sintonia a 100% depois custa tanto quando por algum motivo as coisas terminam e alguém desiste de lutar e se abre mão de um amor assim, que pode não voltar a acontecer nas nossas vidas...
    Nestas situações é inevitável que a pessoa que se entregou mais e esperava o mesmo da outra parte depois não sinta revolta e até rancor.
    Só o tempo poderá ajudar a atenuar a dor e curar as feridas.
    E é tão verdade que não se deve insistir em manter uma amizade quando uma das partes espera mais do que isso... tal só irá prolongar o sofrimento de quem espera mais...

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  2. Humm. Que texto legal, na realidade a parte que mais gostei é quando ela se dá conta que "Ela" está a frente de todo o sofrimento que pode ocorrer, nada melhor que se amar acima de qualquer coisa, pois só nós mesmos podemos compreender e valorizar o que somos e o que sentimos. Parabéns pelo blog, vou segui-lo. Visite o meu, acredito que irá gostar. beijo.

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