quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Carta à "outra"


Cara Noémia

Você não me conhece. Nem eu a si. Mas ambas conhecemos um mesmo homem. Bom, não é original, já sei. Muitas outras o terão já conhecido e muitas outras o irão conhecer ainda.
Calculo que, neste momento, você não compreenda por que razão estará a receber esta carta. Acredito que esteja mesmo surpreendida. Ou, quem sabe, estará, antes, assustada, caso o meu nome lhe diga alguma coisa.
Aquiete-se. As minhas intenções não podiam ser melhores. O que pretendo é fazer de si uma amiga e não uma adversária. Mas para que tal seja possível, terei que lhe contar primeiro como conheci o António.
Eu ainda estava casada, mas as coisas lá em casa andavam muito tremidas. Um dia, uma discussão pôs a nu o que quer eu quer o Roberto, sabíamos. O casamento acabou.
Mas no triste período de uma ruptura há sempre almas masculinas que querem dar-nos apoio. Foi o que aconteceu com António, que não suportava ver uma mulher triste sem se pôr ao seu dispor.
Foi persuasivo. Também ele estava a passar um mau bocado. Mas uma filha pequena travava - dizia o maroto - ainda, a procura de um novo lar.
Mais tarde eu viria a perceber que o que travava um novo lar, era a segurança que lhe dava aquele que tinha, docemente cumulável com as promessas que ia fazendo às avezinhas que consolava.
Todavia, no nosso caso, foi tudo tão excessivo, tão intenso, que ele abandonou mesmo o lar e casou comigo. Esquecendo eu a velha sabedoria popular que afirma "quem faz um cesto, faz um cento". Assim foi.
Ao segundo ano de casamento já o bom António andava a pular de galho em galho. Fui-me fazendo de parva, na esperança de que não aprecesse ninguém como eu... Afinal apareceu você!
Julgou, por acaso, que era a única que ele amara depois de mim? Ele também lhe contou essa história? E você acreditou?
Não, cara Noémia. Depois de mim, apareceram muitas. Mas você é especial. Como eu fui. Só que aprendi a reconhecer, à distância, os riscos que corro.
É, então, chegada a altura de perceber a razão desta missiva. Você não quer perde-lo. Eu também não. Que tal uma espécie de custódia repartida em que cada uma de nós o tem por uma semana?
Espero uma resposta sua. Pense bem. Olhe que quem tudo quer, tudo perde!

Sua Deolinda


1 comentário:

  1. Querida Helenamiga

    Assim uma espécie de como quem diz, mas não exactamente. Uma parceria. Um duo. Se eu fosse a Noémia, logo se veria; se fosse a Deolinda, logo se sentaria. Tem dias.

    Qjs

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