sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aquelas mãos




Ela estava cansada da viagem. O vôo tinha apanhado zonas de grande turbulência. Meteu-se no táxi e disse, apenas, Hotel Tremoille. Apoiou a cabeça no encosto do assento e quase adormeceu. Levantara-se cedíssimo para apanhar o avião das oito horas da manhã. Não descansara o suficiente.
Chegou ao quarto e atirou-se para cima da cama. Ligou a televisão, mas os olhos começavam a pesar-lhe. Adormeceu.
Quando acordou eram horas de jantar. Abriu as janelas para regalar o olhar com o céu de Paris. E ficou, assim, parada uns longos minutos, deixando que a paisagem entrasse dentro de si.
Mas o relógio do estômago deu horas. E ela saíu para jantar. Num dos seus restaurantes preferidos, onde sempre que aparecia, lhe faziam uma festa. Escolheu e apreciou as ostras. Portuguesas, como era hábito.
Já retemperada subiu os Campos Elíseos para comprar umas revistas. Como costumava fazer quando chegava. À entrada, a mesa estava cheia delas. Estendeu a mão para pegar uma. No exacto momento em que uma outra mão, masculina, fazia o mesmo gesto.
Foram segundos, apenas. Mas Joana não se mexeu, os olhos cravados naquela outra mão de um dono igualmente impassível. Perdão, exclamou finalmente.
Quando, por fim, levantou os olhos, já ninguém disputava a revista. Mas ela continuava a sentir o calor daquela outra mão.
Hoje, um quinze anos passados sobre este encontro, ela está no mesmo local, para fazer a mesma compra. Lembrou-se desta história. E sorriu!

Helena

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