sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Quem não arrisca...

Elvira sentia-se muito só. Tinha cinquenta anos e pusera fim a um casamento de trinta.
Os filhos haviam compreendido a sua decisão, mas já tinham família constituída e pouca disponibilidade para se ocupar da solidão materna.
Uma velha amiga, que vivera muito tempo expatriada, dizia-lhe imensas vezes que ela devia ir a uma agência de matrimónios e tentar encontrar a alma gémea. Ou inscrever-se num grupo de danças de salão onde podia conhecer alguém por quem se apaixonasse. De outro lado, sugeriam-lhe cursos de pintura ou de vitrais que podiam ser igualmente locais de apaziguamento do vazio que sentia dentro de si. Mas ela hesitava.
Um dia, no cabeleireiro, viu numa revista um anúncio de alguém numa situação semelhante à dela e que procurava senhora da sua faixa etária para fins sérios. Tomou nota do telefone e depois de vários serões de hesitação resolveu telefonar.
Atendeu-a uma voz fresca, afável, segura, que a motivou. Os telefonemas foram-se sucedendo e Elvira estava no paraíso. Tinha tido uma segunda chance, uma nova oportunidade. Mas impunha-se, ao fim de dois meses de conversa, que se encontrassem.
E foi o que decidiram fazer num determinado dia e em certo local público. Tudo combinado, ela esperou, esperou, mas ninguém apareceu. 
À noite o Miguel - era esse o nome dele, a que acrescentava, como apelido, um sonante Peres de Albergaria - pedia imensas desculpas mas o solar de família, em Santarém, tinha tido uma inundação.
Desculpa aceite marcaram novo encontro numa esplanada no Jardim da Estrela. Ela disse-lhe que iria de amarelo e ele levaria o Expresso com um cravo vermelho dentro. Assim foi. Elvira já não podia recuar perante o homem do cravo, que se erguia para a receber. Homem que, pelo aspecto devia ser pai daquele com quem ela falava. 
Puro engano. Mal ele lhe dirigiu a palavra ela reconheceu o tom e o timbre. Só não reconheceu o rosto que havia imaginado...

Helena

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