sexta-feira, 15 de abril de 2011

O passado de cada um


Teresa não vivia do passado. Mas acreditava que o futuro não se constrói sem as lições que dele tiramos. Ninguém pode, num passo de mágica, pretender eliminar uma parte da sua vida, por mais desagradável que ela possa ter sido.
E até julgava que era bom que assim fosse. Porque aquilo que já vivemos – bom ou mau – faz parte daquilo que somos. Pode estar muito arrumadinho num canto escondido da nossa memória. Pode, até, só raramente vir à lembrança. Mas está lá. E acabará por surgir sempre que vivenciarmos algo semelhante. Ou sempre que a sua revelação nos habilite a compreendermos melhor o mundo que nos rodeia.
Possivelmente era esta a razão pela qual a impressionavam tanto as pessoas que queriam “matar”, apagar, uma parte do que já haviam vivido, parecendo ignorar que esse património é uma das melhores ferramentas de que dispomos para cuidarmos do futuro.
Por isso, pensou, era tão difícil a sua harmonia conjugal. É que cada um dos elementos de um casal possui uma história de vida e uma família à qual, na maioria dos casos, o outro é alheio. Conciliar esses dois mundos nem sempre é tarefa fácil. Para cada um deles, mas também para as respectivas famílias que têm de conviver!
Teresa provinha de uma família da classe média alta, mas casara com o filho de um empregado da lavoura de seu pai. Todos haviam contrariado aquela união que vislumbravam plena de problemas. Dos quais, mais cedo ou mais tarde, ela iria dar-se conta.De facto, assim foi.
Tudo correu bem até ao nascimento do primeiro filho. Com ele começaram as divergências, porque o neto pulava do avô caseiro para o avô proprietário, obrigando ambos a um convívio diferente daquele que sempre haviam tido e que resultava de uma mera ligação laboral.
O mal-estar instalou-se. Com efeito, não era fácil explicar a uma criança de três anos, porque é que a vida de cada um dos avôs era tão diferente. Para o garoto aqueles entes queridos eram e seriam sempre iguais.
Teresa sentia, agora, na sua pele o que antes lhe haviam tentado fazer compreender. Não queria hostilizar marido nem os sogros, mas também não podia pôr-se contra o pai. Até porque não tinha razões objectivas para o fazer. Qualquer deles vivia como gostava e disso nenhum abdicava.
Na verdade o ditado popular era bem certo o adágio popular, quando afirmava “antes que cases, vê o que fazes”.
Como eles iriam resolver a questão nenhum sabia. Apenas tinham a consciência de que, mesmo no amor, os passados de cada um contam muito!

Helena

2 comentários:

  1. Amor e uma cabana é bonito nos filmes, na vida a realidade obriga a outros pragmatismos.

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  2. Cara ASB
    Aqui nem se trata de amor e uma cabana. Antes de diferenças sociais. Que uns têm a sabedoria de saber resolver e outros não.
    Há gente feliz com pouco e gente infeliz com muito.E o contrário também é verdadeiro.
    Ser infeliz custa pouco porque todos o somos. Ser feliz é que é difícil!

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