terça-feira, 1 de março de 2011

A troca


A jovem fora para Inglaterra tentar a vida que nunca fora grande coisa lá na aldeia toscana de onde saíra. Tinha dezoito anos e esperava fazer da bela figura que possuía, o seu modo de vida. Mas as coisas não correram de feição. E a futura ex modelo teve que deitar mão ao trabalho de empregada de mesa, para o qual, afinal, o corpinho também era importante, sobretudo naqueles pequenos restaurantes que rodeiam o centro financeiro de Wall Street pois foi num deles que a bela Laura acabaria por ficar.
Poucos meses antes, Pedro fora colocado num banco português em Londres, como responsável da sucursal. Casado com dois filhos, a mulher, Vera, não o quis acompanhar porque se dava muito mal com o clima da cidade. O casal via-se, assim, em fins-de-semana alternados, em que ou um vinha à capital nacional ou o outro ia à capital londrina.
Foi no pequeno restaurante onde o nosso banqueiro sempre almoçava, que se conheceram. Viriam a tornar-se mais íntimos depois. A ponto de viverem juntos toda a semana e de apenas se darem folga nos dias destinados à já citada conjugalidade familiar. Desta forma decorreram quatro anos de bigamia sem sobressaltos para ele e de promoção social para ela.
Uma manhã Pedro recebeu de Lisboa ordem de marcha para Madrid. Se, por um lado lhe desagradava ter de abandonar o centro nevrálgico dos negócios, por outro, agradava-lhe a movida madrilena. Quando Laura soube do sucedido, decidiu de imediato que o acompanharia. Nem um nem outro, todavia, contaram com a decisão de Vera em acompanhar o marido nessa nova etapa, numa praça mais perto de Portugal e com grandes vantagens climáticas sobre Londres.
Foi, de facto, uma surpresa da qual Pedro não sabia como sair, visto que Laura acabara por vir com ele para Lisboa e não o queria largar. A vida do banqueiro estava a tornar-se insuportável. A ponto de não ter encontrado outra saída, que não fosse contar tudo a Vera, na esperança de que ela fizesse o que ele, no fundo, não tinha a coragem de fazer. Ou seja livrar-se de Laura, cuja função, aliás, atingira o limite da validade. Foi o que, de facto, Vera fez, com dureza e habilidade. Dureza, para que Laura não ficasse com dúvidas sobre o significado da palavra “fim”. E habilidade, porque lhe levou na mão uma boa oportunidade de trabalho na venda de equipamento informático, numa empresa de um seu amigo, em Lisboa.
Raivosa, mas limitada e sem grandes conhecimentos, acabou por aceitar a oferta. O contrário seria voltar para a aldeia donde partira e à qual não queria tornar. Paulatinamente, jurou que havia de encontrar alguém que vingasse esta mal sucedida história. E, na verdade, encontrou.
O “anjinho” foi um dos seus clientes, também ele antigo bancário e casado. A princípio era um aconchego numa vida já pouco interessante. Para ele, que gostava de mulheres e a quem uma não bastava. Para ela, porque lhe arredondava os meses e lhe permitia frequentar outros meios. E, aqui, serviu-se do que aprendera antes. Aos poucos foi-se insinuando e em seguida engravidou. Estava criado o cenário para poder sair vitoriosa. E saiu, mesmo.
Laura e Pedro estão casados há poucos anos. Ela leva uma bela vida. E ele, por seu lado, fez da ex-mulher a sua “amante”, e mima-a como antes nunca fizera. E esta, na nova situação, está longe de ser infeliz. Bem ao contrário, o melhor bocado é hoje dela!
Helena

Sem comentários:

Enviar um comentário