segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O especialista em divórcios

Esta história é verídica e estão vivos todos os seus intervenientes. É caso para dizer que, por vezes, a realidade supera a ficção.
Chamo-me Frederico e tenho cinquenta e cinco anos. Costumava dizer, bem vividos. Hoje, já não digo. Porque, julgo, terei, afinal, cometido bastantes falhas. Na vida profissional até sou bem sucedido. Na vida pessoal é que as dúvidas começam.
Os meus pais divorciaram-se tinha eu, talvez, nove anos. O embate, sei-o agora, foi enorme. Se os meus pais me usaram como arma de arremeço entre os dois, também não me isento dos jogos que fiz, aproveitando-me da situação. Foi ela por ela. Mas sofri mais do que teria gostado que tivesse acontecido. E, jurando que tal nunca me aconteceria, acabei por fazer pior. Sou especialista em divórcios.
Vou contar como tal aconteceu. Casei muito cedo, contra vontade dos meus pais. Mas como era maior, aos 20 anos passava pelo Registo Civil, para dar forma e nome ao amor. Que durou quatro anos, mas de modo intermitente.
O divórcio acabaria por ser pago pela minha mãe que sempre entendeu que as situações reais deviam corresponder às situações legais. Tinha razão. Por isso, nunca mais casei. Fiquei-me pelas uniões de facto com as várias mulheres com quem vivi.
Seguiram-se várias relações que não refiro porque não fizeram história. Mas por volta dos vinte e oito anos conheci a Isabel. E o laço que nos uniu foi forte. Durou cerca de nove anos.
Mas ela, aos trinta e oito, queria ser mãe. Eu, pelo contrário, não estava interessado em ser pai. Até porque, mantinha já há cerca de ano e meio, uma relação com a Vitória, uma garota moderna que tinha menos uma década que eu.
Decidi, então, acabar com a Isabel. Mas demo-nos uma última chance nuns dias de férias no estrangeiro. A viagem correu mal. Não havia, afinal, nada a salvar.
Mas quando iamos no avião para Londres, algo se incendiou, de novo, entre nós. Não me perguntem como foi. Foi mesmo assim. O que fez com que parássemos na capital inglesa por dois dias. Julgo que terá sido nessa altura que o meu primeiro filho, o Diogo, foi feito.
De volta a Lisboa o retomar da vida em comum não correu bem. Vitória fez tudo para ficar comigo. E eu cedi. Saí de casa, tinha a gravidez de Isabel uns seis meses. Não foi bonito. E, talvez porque isso me penalizasse, disse que quando a criança nascesse eu volaria para casa por uns meses para ajudar nos primeiros tempos do meu rebento. E aconteceu assim.
Só que ver cá fora um filho apesar dele não ter sido planeado, acabou por me levar a perguntar se Vitória valia mesmo que eu perdesse o crescimento de Diogo. Ou seja, comecei com dúvidas. E achei que queria estar com o filho e a mãe.
Assim, decidi acabar com a Vitória. Saímos para jantar e, para evitar subir a sua casa, ficámos um bom bocado no carro à sua porta. Eu tentava, mal, explicar-lhe as minhas razões.
Foi o meu azar. Enquanto isso acontecia, a Isabel passou no local e reconheceu o meu carro. Quando cheguei a casa tinha as malas feitas. Duma penada ficara sem as duas mulheres, sem o filho e sem casa...
Passaram alguns meses e eu que sou comodista voltei para a Vitória. Que, uns tempos depois, engravidou do meu segundo filho, o Tiago. Vivemos juntos mais seis anos da minha vida. Até que voltei a separar-me. E a encontrar, meses depois, a Maria, uma amiga que conhecera anos atrás. Desta vez pegou e passaram mais cinco anos.
Acabo de me separar. Mas sou um homem de sorte porque todas estas mulheres gostam muito de mim. E eu delas, é evidente!

Helena

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