quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Não deixes para amanhã...

Marcela sempre fora assim. Poupada nos gestos e nas palavras. Não decidindo nada de imediato, na presunção de que daí a dias seria melhor. Na família chamavam-lhe "a adiada"!
Não era fácil ser sua amiga nem vencer a barreira das suas indecisões. Claro que ela sofria menos do que os outros, porque na esperança de que o dia seguinte, a semana seguinte, enfim, o mês seguinte oferecessem condições mais benéficas, também adiava dores e desilusões. Os que com ela conviviam diziam-lhe que, sendo assim, daquele geito, ela acabava igualmente por postergar as alegrias. Mas Marcela prosseguia o seu caminho satisfeita por poder dilatar todos os seus prazos.
Por várias vezes teve problemas na escola, depois no liceu e finalmente no trabalho. Todos lhe diziam que um dia ela ainda se iria arrepender do seu feitio, mas a nossa heroína pouco mudava no seu comportamento. "Só um susto grande vai fazer com que mude" diziam os amigos...
Estivemos muito tempo sem a ver. Sem sabermos nada dela. Havia quem dissesse que tinha um noivo, mas ninguém tinha a certeza.
Um dia numa daquelas reuniões de colegas de liceu, a Marcela apareceu. A horas. Foi uma festa à sua volta. Todas queríamos saber o que lhe tinha acontecido. Embora discreta lá contou, um pouco, a sua vida.
Começara a trabalhar cedo, logo que acabara o secundário. Decidira continuar a estudar em horário pós laboral. Tinha terminado o curso havia poucos meses.
Como seria de esperar, havia de apaixonar-se. E namorou o prazo tido por regulamentar. Até que, numa tarde foi pedida em casamento. E aí voltou-lhe a indecisão. Não estava segura acerca da vontade de se casar. Mas não queria perder o Pedro. Adiou, quanto poude, a decisão. Sem se aperceber, como sempre, das consequências dessa espera. Apesar de saber que estava a correr riscos, não conseguia decidir-se.
A certa altura o sexto sentido feminino deu-lhe aviso. E ela, intuindo que o tempo escasseava, e que o perigo já podia ser demasiado demasiado, resolveu aceitar a proposta feita.
Porém a reacção de Pedro, ao dizer-lhe que "agora já não havia pressa", não foi a esperada. Perturbada, perguntou-lhe o que é que ele queria dizer com aquela resposta.
Foi aí que percebeu que fora longe demais e que o seu tempo havia passado. É que não se deve deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. Com efeito o noivo, entretanto, encontrara quem lhe deu a resposta no mesmo dia do pedido...

Helena

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