Joana vivia num meio rural do interior do seu país. Corria quilómetros para aprender a ler, objectivo que já era considerado pelos seus pais como sendo mais do que a vida lhes tinha a eles permitido.
A sua curta existência tinha sido passada quase sem assentar em lugar fixo, porque o seu pai ia para onde houvesse trabalho de campo. Assim, com dez anitos já deveria ter conhecido mais de uma dúzia de terras. E era quase sempre quando começava a fazer amigos que tinha de se mudar. Foi, portanto, uma criança isolada que preferia os objectos às pessoas. Porque estes, sendo parcos, eram tudo o que possuía de seu.
Estava naquela terriola há seis meses e todas as noites olhava para o vaso de crisântemos que havia encontrado quando ali chegou, como se ele fosse a ampulheta do tempo que havia passado e, simultaneamente, daquele que lhe faltaria para dali sair. A planta, cuidada com todo o carinho, estava viçosa e era, de facto, a sua companhia. Todos os dias falava com ela os segredos que as outras crianças falavam com as amigas.
Um dia, ao chegar a casa, vinda da escola, o vaso havia desaparecido. Joana correu as redondezas para o tentar encontrar. Tudo debalde. Nunca soube o que lhe tinha acontecido. Apenas sabia que estava agora muito mais sozinha. A partir daí os dias corriam tristes e ninguém parecia conseguir compreender o que se passava com ela.
Os anos correram e os tempos melhoraram. Joana fez-se mulher. Deixou de rolar de terra em terra. Os pais acabaram, finalmente, por se poderem fixar ali.
No seu quarto, junto à janela, está um vazo com crisântemos. Foi a primeira compra que fez, quando arranjou trabalho, apesar de, nessa altura, já contar com algumas amigas...
HSC